segunda-feira, 23 de maio de 2016

Devagar se vai ao longe, creio

Vinte e três de maio, Dia Mundial da Tartaruga. Você sabia disso, atilado leitor, perspicaz leitora? Também não? Pois é, nem mesmo sabia-o eu, este esforçado mundano cronista que vos digita, mas sempre acabo descobrindo essas coisas, sei lá, é como se um ímã me conduzisse a temas dessa natureza. Mas, enfim, hoje é o Dia Mundial da Tartaruga, evento promovido desde 2000 pela American Tortoise Rescue, entidade ambientalista internacional preocupada com a preservação desses quelônios. Trata-se, portanto, da décima-sétima edição do evento e só agora ficamos sabendo. Andam devagar as coisas, em se tratando de tartarugas, haha! Desculpem.
Mas, então, o que falar a respeito das tartarugas, neste dia dedicado a elas? É preciso discorrer sobre alguma coisa, temos uma crônica a cumprir. E, mesmo devagar, se vai ao longe. Haha, de novo. Isso era um joguinho de tabuleiro nos tempos da infância, não era? Falava-se “vamos jogar devagarsevaiaolonge”, assim, tudo junto, substantivado. Mas temos de focar nas tartarugas e, falando em infância, recordo dos pequenos cágados e jabutis que na época ainda era permitido adquirir de vendedores de rua e levar para casa, a título de bichinhos de estimação. Tive muitos; alimentava-os com fiapos de carne e nacos de frutas e ficava horas observando-os a fazerem nada. Eles e eu, tartarugando.
Disso, porém, há pouco a resgatar e oferecer ao leitor. Melhor evocar uma leitura envolvendo filosofia e lógica, para justificar, frente ao leitor, minha ocupação deste espaço. Em seu livro de ensaios “Discussão”, o escritor argentino Jorge Luis Borges se debruça sobre as nuances de um dos mais famosos Paradoxos de Zenon de Eléia, um filósofo pré-socrático. Zenon usa essa demonstração teórica na tentativa de provar que o movimento não existe, trata-se de uma ilusão. No paradoxo, ele imagina uma corrida entre o veloz Aquiles (personagem mitológico) e uma morosa tartaruga. Como a tartaruga é sabidamente mais lenta, ela sai com dez metros de vantagem. É dada a largada. Aquiles corre os dez metros, enquanto a tartaruga corre um metro. Aquiles vence esse metro, mas a tartaruga corre um decímetro. E assim, até o infinito, Aquiles jamais ultrapassará a tartaruga.

Ao menos, não aos olhos da lógica pura e simples. Mas nem sempre a lógica nos conduz à descoberta da verdade, é o que nos demonstra a tartaruga. Há de haver também lugar para o bom senso. E, pela lógica, a julgar pelo início do texto, tampouco o mundano cronista conseguiria conduzir esta crônica de hoje a bom termo. Por que esse “haha”, madame??
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 23 de maio de 2016)

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