Hoje vamos falar de vampiros. Sei tudo sobre vampiros.
Leio muito a respeito há séculos... Quer dizer... Há anos. Muitos anos. Com o
passar das eras, ou melhor, dos anos, fui acumulando profundos e detalhados
conhecimentos a respeito das mais variadas espécies de vampiros, seus hábitos,
suas características, suas preferências, suas formas de manifestação e,
sobretudo, a respeito de seus disfarces. Um dos mais poderosos artifícios dos
vampiros é seu poder de se disfarçar e de se imiscuir anonimamente no seio da convivência
com suas vítimas em potencial. Aterrador, não acha? E é mesmo.
Ao estudar o vampirismo, descobri que a pátria dos
vampiros é a longínqua e nebulosa Transilvânia, encravada nos Cárpatos da
Europa oriental. Ali, a vampirada deita e rola, ou melhor, suga e morde, ao
sabor de sua insaciável sede de sangue. Vampiro quer sangue, cada vez mais e
mais, e fica desesperado quando se vê impossibilitado de prosseguir encravado
nas veias que lhe proporcionam o tão desejado fluido vital. Está escrito na
testa do vampiro “quero sangue”. Observe bem e você verá. Pois bem. Lá na
Transilvânia, a pátria dos vampiros, as diversas regiões do país são
controladas por enormes e fabulosos gigantes. São gigantes imensos, colossais,
descomunais, cujos organismos são constituídos por quilômetros infindáveis de
veias e artérias pelas quais circulam milhares de litros de cobiçoso sangue
para a vampirada.
E frente a isso, o que os vampiros da Transilvânia fazem?
Ora, eles se reúnem em grupos de afinidades, que denominam “partidos
vampíricos”, e se organizam para atacar, subjugar e vitimizar os gigantes para,
assim, sugar-lhes o sangue em conjunto, unindo forças e garantindo a eternidade
de suas vampiranças. O interessante é que todo o processo é muito democrático.
Apesar de se odiarem entre si, os grupos fazem acordos estratégicos para imobilizar
e sugar a seiva vital dos gigantes. O grupo de maior expressão e poder
vampiriza a jugular e as principais artérias dos colossos; os grupos
intermediários ficam com os órgãos secundários e as veias mais extensas; os
grupelhos menores sugam os dedinhos, as orelhas, a ponta do nariz.
Enquanto houver gigante a ser sugado, os grupelhos de
vampiros trotam juntos suas jornadas vampirais. Caso percam a boquinha – ou
melhor, a gargantinha –, imediatamente as alianças se esfacelam como névoa e os
vampiros brigam entre si, acusando-se uns aos outros e saindo imediatamente em
busca de outro gigante para vampirizar. Um pesadelo a situação lá na
Transilvânia.
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 9 de janeiro de 2017)
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