Cada um acredita no que quer, a senhora não acha, madama? Ninguém tem o
poder ou o direito de criticar ou querer reorientar as crenças dos outros.
Muito menos, de zombar delas. Crença é crença; acredita-se e pronto. Razão,
lógica, bom senso, não entram na conta quando se trata de acreditar em alguma
coisa. Não temos a obrigação de justificar nossas crenças. Não exijam coerência
de nós, que cremos, independentemente do que quer que seja aquilo em que
depositamos nossas mais profundas fés. Plural de “fé” é “fés”? Creio que sim (na
verdade, torço para que sim, a bem do bom senso e do bom gosto desta crônica de
segunda).
Eu sou um ser lotado de crenças. Algumas delas acompanham minha
existência há décadas. Outras foram sendo abandonadas no meio do caminho, abandonos
esses motivados pelas experiências e pelas decepções que se apresentam a cada
esquina dobrada. Há crenças que nos fortalecem e nos justificam, ao mesmo tempo
em que há aquelas que nos decepcionam, que nos faltam justamente no momento em
que esperávamos delas a manifestação e a comprovação das certezas que nelas
depositávamos. Crer não é saber. Crer não é conhecer. Crer é crer e ponto.
Eu, por exemplo, coleciono acreditares e ninguém tem nada a ver com isso.
Acredito no emagrecimento estonteante da Geisy Arruda; acredito na conversão da
Andressa Urach; acredito no Monstro do Lago Ness (o Lago Ness existe, já
naveguei nele, e deparei, sim, com um monstro por lá, mas isso fica para outra
segundeira, não é hora de tratar sobre espelhos e reflexos assustadores em
águas turvas); acredito em vida extraterrena; acredito em torta de bolacha; acredito
na previsão do tempo; acredito nas profecias de Nostradamus (especialmente
naquelas já confirmadas); acredito no ponteiro do reservatório do tanque de
combustível de meu automóvel; acredito no pacto feito com o despertador antes
de entregar-me ao sono; acredito na performance do time para o qual torço
(esqueci de dizer que acreditar contém doses absurdas de cabeça-durismo) e em
tantas outras coisas.
Já acreditei em discos voadores, mas troquei-os pelos discos de vinil. Tem
quem creia que a Terra é oca e há quem jure que ela é plana (eu acredito que
seja redonda, o que explica certas tonturas e alguns desequilíbrios). Até
sábado passado, acreditava no planeta Niribu e em seu iminente choque contra a
Terra, acabando com o mundo, mais uma vez. Se aconteceu, esqueceram de me
avisar. Mas a mais estranha e injustificável de todas as minhas crenças é essa,
teimosa, na humanidade. Cada um com seus absurdos, né, madama.
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 25 de setembro de 2017)
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