Quando estamos determinados a fazer alguma coisa, não há desculpa capaz
de nos demover de nosso foco. Porém, virando a outra face da moeda, surge
estampada ali a antítese direta do axioma, em mesmo peso: se não queremos fazer
algo, qualquer coisa serve de desculpa para nossa inércia. Quando não queremos
fazer algo que deveríamos fazer, usamos como subterfúgio a ação impeditiva
supostamente advinda de todos os elementos externos a nós mesmos, que se
colocam como pedras atravancando nosso caminho. Porém, quando estamos
determinados a cumprir uma tarefa, não há galho no meio do trajeto que não seja
transposto, cerca que não seja pulada, pedra que não seja rolada para o lado,
vento que não seja encarado de frente, temporal que não seja exorcizado no
grito. A moeda é sempre a mesma. O lado que decidimos oferecer à luz do sol
depende de nossa vontade, e só dela.
Penso nessas coisas quando me ponho a refletir sobre a impressionante
história de vida de um personagem folclórico que movimentou as paragens do
distrito de Criúva por volta de muitos-anos-no-antigamente-afora, isto é, ao
redor de 1844. Conhecido como “O Santo da Cruz”, há até uma ermida erguida em
honra a ele ao lado da Igreja Matriz, onde está abrigada a cruz que dizem o
monge ter deixado para a comunidade ao partir depois de uma temporada pelas
redondezas operando milagres, fazendo curas, distribuindo benzeduras, bênçãos,
conselhos, auxílio espiritual e semeando mistérios. Mas tinha nome e biografia o
monge eremita. Chamava-se Giovanni Maria D`Agostini. Nasceu em 1801 na região
italiana do Piemonte; ingressou jovem em um seminário em Roma mas saiu antes de
sagrar-se padre. Desejava percorrer o mundo divulgando a fé, na forma como a
entendia, e foi o que fez.
Os registros históricos que seguem suas pegadas dão conta de que, primeiro,
percorreu França e Espanha, chegando a fazer o Caminho de Santiago de
Compostela. Depois, migrou para as Américas e percorreu (acompanhe): Venezuela, Colômbia,
Equador, Peru, Brasil (São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul,
onde deixou marcas em Criúva, Candelária e Santa Maria), Chile, Bolívia, Peru,
México e Canadá. Cansou? Ele não. Tem mais. Percorreu boa parte dos Estados
Unidos até se aquerenciar em uma cidade no Novo México, onde acabou
misteriosamente assassinado em 1869. Pois é. Fez tudo isso a pé, de carroça,
barco ou no lombo de animais. Não esperou a chegada dos automóveis e dos aviões
para cumprir a tarefa. Sua inexistência não era desculpa. E a gente aqui,
reclamando do elevador que enguiça...
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 13 de novembro de 2017)
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