O resultado de uma recente
pesquisa internacional sobre os (maus) hábitos alimentares de um punhado de
países (entre eles, o Brasil) está virando um prato cheio para o debate a
respeito do que significa alimentação saudável. E as conclusões podem ser
indigestas para aquela parcela da população afeita ao consumo diário dos ditos
“pratos feitos” (conhecidos pela sigla PF), de norte a sul do país. Acontece
que, conforme os pesquisadores (que recentemente publicaram o estudo no
“British Medical Journal”), por mais que haja variações na conformação dos PF
dependendo das peculiaridades de cada região brasileira (o estudo também foi
feito nos Estados Unidos, China, Gana, Índia e Finlândia), a base pouco varia,
as porções costumam ser exageradas e o resultado é calorias em excesso e saúde
em risco. Sinal de alerta ligado!
O tradicional cardápio do PF,
composto por feijão, arroz, ovo frito, batata frita, bife frito (e dê-lhe fritura!),
alface e tomate, é pobre em variação de alimentos e exagerado nas porções. Em
resumo: dessa forma, o brasileiro vê aterrissar à sua frente, diariamente, um
combo de muito carboidrato, muita fritura e pouca salada e legumes. Pior:
devido ao exagero das medidas, um PF oferece, em média, no Brasil, 1,2 mil
calorias, praticamente a metade do que um homem adulto precisa ingerir por dia
para manter uma dieta saudável, segundo os padrões internacionais (uma mulher
adulta precisa ingerir, em média, 2 mil calorias por dia). Estamos, portanto,
comendo errado, conforme o estudo, atingindo sobrepeso e prejudicando nossas
saúdes. O PF é a bola da vez na mira da cartilha para uma vida melhor. O
consolo (ou melhor, o alerta) é que o problema não é exclusividade dos
brasileiros, e se manifesta também em todos os demais países pesquisados, com
exceção da China, onde a conduta ponderada pauta a maioria dos aspectos da vida,
especialmente na alimentação.
Ninguém nega o sabor e a tentação
de um belo, colorido e divertido prato com o tempero típico do feijão nacional,
com um arroz soltinho, um suculento bife (às vezes, acebolado), uma porção
crocante de batatas fritas, uma gema dourada de ovo frito, o verde das alfaces
e o rubro dos tomates. Nos tempos de antanho, já consumíamos essa base, com
algumas variantes, e a apelidávamos de “prato comercial”, ou “bandejão” (nos
restaurantes universitários e nos quartéis), até o surgimento dos (às vezes)
redentores bufês a quilo. Mas, como em tudo na vida (tudo, tudo), o que vale
mesmo é o bom senso. Só que isso não aterrissa de graça como acompanhamento no
prato de ninguém.
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 14 de janeiro de 2019)
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