Há coisas que dão no que pensar,
não é mesmo, madama? Podemos tirar lições (se refletirmos direitinho) para
nossas vidas a partir de episódios que, sob uma análise apressada e
superficial, poderiam passar batidos pelos domínios de nossas atenções e
correriam o risco de serem descartados na lata de lixo da memória, para onde
varremos aquilo que julgamos sem valor e inócuo (ah, cuidado com o acúmulo de
pequenos entulhos debaixo do tapete, que um dia eles se avolumam, se revoltam
e, daí, haja aspirador de pó potente para removê-los de lá, a gente sabe, né,
madama minha?). Pois ao findar dessa semana que passou, encasquetei com um fato
que ocorreu bem longe daqui e que se recusa a desocupar os flocos de pensamentos
que povoam e nublam constantemente meus pensares. Deve haver algum significado
nisso.
Trata-se do sumiço inexplicável e
atordoante da sonda espacial indiana Vikram, que deveria ter pousado na lua na
última sexta-feira, mas que, poucos minutos antes da alunissagem, quando já
estava em processo de descida ao solo do nosso romântico e brilhoso satélite,
cortou comunicações com a base terrestre sediada na Índia e deu xabu: sumiu,
escafedeu-se, desapareceu, não se sabe mais dela. A decepção entre a equipe de
astrônomos indianos e de toda a nação asiática é astronômica, afinal, apostavam
no sucesso da missão, que carimbaria o ingresso da Índia no seletíssimo grupo
dos países que já conseguiram arremessar com sucesso artefatos artificiais
produzidos pelo homem ao solo da lua. Até agora, só Estados Unidos, China e
Rússia (quando ainda era União Soviética) conseguiram fazê-lo. A Índia também
queria, mas a Vikram (que significa algo como “valoroso”, no idioma hindu)
parecia acalentar secretamente seus próprios planos e aproveitou uma piscadela
dos controladores de voo para escapulir e ir se enfiar em alguma dobrada nas
infinitas lonjuras espaciais, sem nem deixar bilhetinho de adeus.
Por onde anda a Vikram? Terá ido veranear
em algum anel de Saturno? Foi bater um papo com a solitária sonda Viking nas crateras
de Marte? Vai até Plutão para conferir in
loco se ele é mesmo um planeta ou não? Impossível saber, afinal, ela não dá
notícias de seu paradeiro. A vida é assim, madama: os seres (reais ou
artificiais) nem sempre agem do jeito como foram programados ou de forma a
atender as expectativas que depositamos neles. Se mal conseguimos reger a nós
mesmos, que poder podemos imaginar possuir sobre o nosso entorno? Foi-se a
Vikram, viver seu próprio destino. A nós, cabe conduzirmos os nossos, da melhor
maneira possível.
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