A verdade, onde mora a verdade? Analisando os bastidores
da História, tanto a antiga quanto a recente que está sendo tecida diante de
nossos olhos e narizes; tanto a de nosso povo quanto a das outras nações, bem
como as biografias dos protagonistas e o que elas ocultam ou sugerem nas entrelinhas,
chega-se à conclusão de que a verdade é um elemento meramente decorativo na
composição dos fatos que entram para a historiografia oficial da humanidade. Onde
mora a verdade? Ora, em lugar algum. Ela é, a bem da verdade (ops), um
sem-teto, um ser vagante que não encontra abrigo em página alguma na História
da raça humana.
A verdade bate de porta em porta, é recebida com sorrisos
na condição de convidada de honra nos salões mais nobres da História,
acomoda-se em assento especial a ela reservado na mesa principal e posa para as
fotos que ilustrarão as páginas oficiais do jantar. Porém, é mantida
estrategicamente à distância dos porões da mansão onde, a portas fechadas, são
tratados os verdadeiros acordos, onde as intrigas ganham forma, onde as intenções
são postas à mesa, onde a barganha se concretiza, onde as máscaras são despidas.
Ali, a verdade não entra. A música embala o baile no salão nobre onde a verdade
é ludibriada pelos sorrisos e flashes que irão compor a História oficial. O
alegre bailado sacode as tábuas do teto dos porões esfumaçados que ficarão à
margem da narrativa. Porém, é ali que a verdadeira História ganha forma, só que
ninguém fica sabendo. Alguns indícios às vezes sobem as escadas e tentam vir à
tona, porém, logo são varridos para o meio-fio e classificados como teorias da
conspiração, frutos de mentes ingênuas e deturpadas. Terminada a festa, a
verdade volta a ser arremessada para a sarjeta.
E assim, vamos acreditando no que nos contam sobre as
mortes de Marilyn Monroe e de John Kennedy, sobre o suicídio de Getúlio Vargas,
sobre os reais desdobramentos da Segunda Guerra Mundial, sobre o assassinato de
John Lennon, sobre os motivos dos processos de impeachment de presidentes
brasileiros, sobre as planilhas de custo de certos produtos, sobre o atentado
ao World Trade Center, sobre a inocência de revelarmos todos os nossos dados
pessoais permanentemente conectados à internet, sobre as intenções de
determinados políticos e assim por diante.
A humanidade está em pé de guerra contra a verdade desde
que o mundo é mundo. Nem mesmo os ditados populares escapam dessa equação. Por
exemplo: quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? Nem um nem outro. Na verdade,
quem veio primeiro foi o galo, mas isso nunca nos é contado.
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 10 de abril de 2017)
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