Quando o combustível da marcha é
o ódio, o final da jornada será o abismo. Sempre. Se esse mesmo ódio receber
como aditivos vindos direto da bomba a intolerância, a soberba, a insanidade e
a brutalidade, embaçando a visão do trajeto, o final da jornada será
necessariamente o abismo. Sempre. Não importa a causa, que até pode ser, em
essência, justa. A causa, por mais justa e legítima e louvável que seja,
sucumbirá ao abismo se for conduzida pelo ódio, pela raiva, pelo rancor, pela
desinteligência, pelo belicismo, pelo segregacionismo, pelo socar a mesa, pelo
desamor. Não há causa justa que se sustente quando os pilares são fundeados
sobre as areias movediças do fel e da estupidez. Nesses casos, à frente, no
final do caminho, nada mais haverá a esperar do que a voraz beira do
precipício, no qual sucumbirão todos os acólitos que concordaram em marchar sob
o incentivo da raiva. Sempre.
Foi assim na Segunda Guerra
Mundial, por exemplo. O combustível da marcha do nazismo (causa que, aliás, em
nada consegue sustentar um pingo de defensibilidade por quem respeita os
preceitos básicos da civilização), capitaneada por Hitler e sua camarilha de
psicopatas, era nada menos do que o ódio animalesco e insano, inspirado por
eflúvios claramente infernais. Ameaçando as estruturas da vida em harmonia
entre os povos, as gentes e suas peculiares e encantadoras diferenças, Hitler e
seu bando de bestas-feras obrigou o mundo civilizado a se aliar na “defesa de
tudo o que fazia com que a vida merecesse ser vivida”, conforme resumiu o então
primeiro-ministro britânico Winston Churchill, que liderou os ingleses na longa
e sangrenta batalha contra o terror hitlerista que procurava mergulhar o mundo
nas mais sórdidas profundezas do horror. Sim, porque o nazismo e seu ódio
intrínseco representavam a antítese dos elementos que fazem a vida valer a pena
ser vivida. Não há lugar para o ódio em uma vida que se almeje plena,
construtiva, colaborativa e significativa. Nem um milímetro sequer. Nunca.
É interessante também assinalar
que, dentro de seu claustrofóbico bunker, enquanto Hitler babava e surtava de ódio
contra seus oficiais a cada eventual revés no desenrolar da guerra que travava
contra o mundo, Churchill, por outro lado, incentivava seus aliados com
palavras plenas de lucidez: “Ao fitarmos com olhar firme as dificuldades à
nossa frente, podemos retirar uma confiança renovada da lembrança das que já
superamos”. O final da História todos sabem qual foi. Afinal, cada um escolhe o
combustível com o qual deseja encher o tanque de sua jornada.
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 10 de setembro de 2018)
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