Sim, nem Haddad e nem Bolsonaro.
Ao findar da campanha eleitoral deste marcante ano de 2018, o maior derrotado
terá sido o processo civilizatório no Brasil, representado por um batalhão de
vítimas. A primeira delas: a qualidade do debate de ideias. Morreu o debate de
ideias. Discutir, de forma madura, propostas de governo e de sociedade entre os
eleitores foi substituído pelo extravasar de veneno, de ódio, de fel, de
amargor, de raiva e de violências. Convencer o outro que pensa diferente foi
trocado por destruir o outro que ousa pensar diferente. Enterrou-se a
civilidade, a grande perdedora das urnas em 2018.
O resultado final dessas
eleições, seja ele qual for, trará embutido o recado de que os opostos se
repelem e que a sociedade brasileira, em sua maioria (salvo as raras exceções
de praxe), optou por acolher uma postura estranha de que é lícito endemonizar e
massacrar os contrários. Conviver com a diferença é prática que vem sendo
varrida para a lata do lixo no país pelos brasileiros. Ninguém está nem aí para
qualquer espécie de ambiente, seja ele natural ou social ou emocional ou
humano. O negócio é jogar no ventilador, se abaixar e ver no que dá. A
molecagem tomou conta. Adotou-se a postura do gato malandro, que chacoalha a
escada e é o primeiro a escapulir porta afora a salvar o próprio couro assim
que a estrutura desaba, sem arcar com as consequências do que fez, eximindo-se
das responsabilidades. Um país de gatos malandros, de todos os matizes, sob
todas as bandeiras, camuflados em todos os discursos. Todos.
Nesse contexto, a multidão de
perdedores é incontável. Perde o passado, que parece não ter mais relevância em
seu papel de ensinar com os erros ancestrais. Perde o presente, em que o
convívio fraterno está comprometido pelo espraiar do ódio e da intolerância. E
perde o futuro, que se embasa em estruturas inumanas, incivilizatórias,
carcomidas pelo cupim do rancor e das más intenções mútuas e recíprocas. O que
esperar de uma sociedade que aposta na desagregação como alternativa? Que opta
pelo ódio, pelo veneno, pelo desamor, pela arrogância, pela surdez coletiva, pela
desarmonia, pela violência manifesta em todas as formas possíveis? O suicídio
social é completo quando as nuvens pesadas vêm de cima, de baixo, da esquerda,
da direita e do alto. Quisera poder ser mais leve nesta crônica de segunda.
Lamento. Não deu. Depois dessas eleições, tentarei renovar meus votos, no Natal
e no Ano Novo, pela retomada da convivência civilizada entre as gentes desse
país, na esperança imorredoura de não brindar sozinho.
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 15 de outubro de 2018)
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