Bah, mas que pena! Eu já estava todo
faceiro, abanando o rabinho frente à notícia bizarra e encantadora, e agora vem
o lava-jato d´água estragar tudo. Já tinha até conseguido decorar o nome da
coisa: “Oumuamua”. Passei uma tarde treinando, confesso, mas estava convicto de
que valia a pena, afinal, tratava-se da mais importante revelação da História
da humanidade: estávamos sendo visitados por um artefato estelar que passava a
apenas (?) 30 milhões de quilômetros da Terra (sabe a distância entre o centro
de Caxias e Vila Cristina?... pois é... mais do que isso, madama... bem
mais...), e que, segundo uma dupla de renomados astrônomos norte-americanos, havia
sido fabricado zigulhões de anos atrás, por inteligências extraterrestres habitantes
do espaço-além! Oumuamua era a prova cabal e esperançosa de que existe, sim,
vida inteligente fora da Terra! Ou, para sermos fieis à realidade dos fatos: de
que existe vida inteligente no universo, e ela se encontra mesmo é fora da
Terra. Oumuamua era a prova! Só que não!
Oumuamua, uma espécie de
asteroide diferente dos outros asteroides, em forma de charuto alongado,
viajando a uma velocidade surreal e apresentando um comportamento diverso do
padrão adotado pelos asteroides que são apenas asteroides mesmo, o que colocou
pulgas atrás das orelhas dos astrônomos, sempre tão céticos e desconfiados.
Astrônomos são diferentes de astrólogos e de ufólogos. Astrônomos, a princípio,
optam pelo “não”. Mas, dessa vez, com o Oumuamumnumuma... quer dizer... já
esqueci... deixa soletrar que eu acerto... dessa vez, com o Ou-mu-a-mua...
isso, com o Oumuamua, a coisa era diferente. Tudo estava diferente, e a
astronomada começou a achar que finamente podia relaxar e dizer “sim”! Sim,
sim, siiimmm, estamos sendo visitados por um objeto criado por inteligências
extraterrernas e esse tareco é o tal do Oumuamununu..., enfim, aquela pedrona que
passou raspando e fazendo vento a apenas 30 milhõezinhos de quilometrinhos de
distância de nossa velha e boa Terra!
Só que não. Primeiro, a coisa
passou meio que despercebida, tão envolvidos estávamos em nossas tradicionais
questiúnculas terráqueas equilibradas entre fake news e verdadeiras-news-de-dar-enxaqueca.
Segundo, que o Oumuninununino não era alienígena coisa nenhuma, era asteroide
mesmo, não foi fabricado por homenzinhos verdes em Alfa Centauro. Não, madama.
Os inteligentes do Universo continuamos sendo nós, mesmo, por enquanto. Até que
um redentor lava-jato venha um dia nos colocar em nosso devido lugar universal.
Até lá, paciência: segue sendo tudo conosco...
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 12 de novembro de 2018)
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