segunda-feira, 21 de outubro de 2019

O conselho de Clementine


Winston Churchill (1874 – 1965), o primeiro-ministro que liderou o governo de coalizão formado na Grã-Bretanha de 1940 a 1945 para enfrentar o nazismo durante a Segunda Guerra Mundial, assentou-se na História Universal pela porta da frente, envergando o manto dos grandes líderes inspiradores que conduzem seus povos a destinos alvissareiros. Havemos de concordar que poucas coisas se comparam em alvíssaras ao fato de conseguir derrotar, às custas de sangue, sofrimento, suor e lágrimas, a bestialidade psicopata representada pela visão deturpada de mundo capitaneada por Hitler e sua gangue de degenerados. As capacidades de liderança, de inspirar as massas, de analisar a conjuntura com lucidez, de tomar decisões corajosas e determinantes, compunham, em Churchill, um conjunto de atributos reconhecido por seus pares dentro e fora de seu país, e sua personalidade incomum teve um peso importante no desfecho da guerra, que pendeu, felizmente, para o lado civilizatório.
Churchill, dotado de uma presença de espírito sagaz, de raciocínio rápido e do dom da oratória, foi um frasista excepcional, e ele mesmo sabia disso. Tanto é que usava e abusava das tiradas de efeito, e até hoje lembramos de algumas delas, proferidas no calor do conflito, como: “Nós lutaremos nas praias, nós lutaremos nos campos, nós lutaremos nas colinas, nós jamais nos renderemos”; “Se Hitler invadisse o Inferno, eu faria uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Comuns”; “Uma cortina de ferro baixou sobre a Europa”; “O que eu espero, senhores, é que depois de um razoável período de discussão, todo mundo concorde comigo”. Pais ingleses costumavam homenagear Churchill colocando seu nome nos filhos, como no caso de um tal John Winston Lennon (1940 – 1980), que também faria História, mas isso são outros acordes.
Chucrchill, no entanto, também tinha lá seus defeitos e falhas, pois era humano. Quem melhor as conhecia era sua esposa, Clementine, que, certa feita, o aconselhou, por carta, dizendo-lhe assim: “É para você dar ordens e, se eles não fizerem o serviço direito – com exceção do rei, do arcebispo da Cantuária e do presidente da Câmara –, você pode demitir qualquer pessoa, portanto, com esse poder terrível, você tem de combinar urbanidade, gentileza e uma calma olímpica... Você não vai conseguir os melhores resultados com irritabilidade e grosseria”. Churchill e suas frases servem de inspiração para os povos em dificuldades homéricas. Mas Clementine lega à História uma pérola de lucidez nas esferas da gestão e das relações sociais e profissionais.
(Crônica de Marcos Fernando Kirst publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 21 de outubro de 2019)

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