O versículo 1
do terceiro capítulo do livro de Eclesiastes, no Velho Testamento, nos ensina
que “Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu”. O
que se aprende com a máxima é que nada é perene na vida, tudo tem um início e
um fim, e que as coisas se reciclam. Quem era, na infância, nosso
amigo-para-sempre, depois desaparece nas dobradas da vida de cada um e não raro
jamais voltamos a vê-lo, quiçá, esquecemos até seu nome. As carroças não vieram
para ficar, foram substituídas pelos automóveis, apesar dos lamentos dos cocheiros.
A sabedoria oriental também nos ensina que o germe do novo, que não vê a hora
de desabrochar, pulsa latente nas entranhas do velho, que, ao ser superado,
prepara o terreno para o contínuo processo de transformação que pauta a saga da
vida sobre o planeta.
Assim também
se dá, madama, no mundo das crônicas e dos cronistas, inclusive na parcela que
toca os cronistas mundanos de segunda, como este que vos escreve. Esta, que
hoje a senhora lê, na companhia intangível de tantos outros generosos leitores
e dedicadas leitoras, é a última que publico neste espaço que venho ocupando
nas páginas do jornal “Pioneiro” desde 24 de dezembro de 2009. De lá para cá,
foram, contando com a de hoje, 1.156 crônicas, versando um pouco sobre tudo e
um nada sobre muito, às vezes semanalmente, em outros períodos, até de forma
diária. Mas, parafraseando o texto bíblico e ampliando seu alcance, reitero que
há tempo para ficar e tempo para partir, tempo para permanecer e tempo para ressignificar.
Chega agora um desses tempos, e o cronista se despede do espaço e do veículo,
mas não dos leitores.
Afinal,
escritor é escritor e escrever lhe é atividade vital. Se assim não fosse,
escritor não seria, e o mesmo se dá com o cronista, inclusive com os de
segunda. Se ao longo desta década meus textos aqui publicados colaboraram para
suscitar em alguns o prazer de ler e ajudaram em outros a aguçar o sentido da
visão sobre os pequenos detalhes do cotidiano, que, na verdade, representam a
complexidade encantadora da vida, então, me dou por satisfeito. Foi um grande
prazer exercitar esse gênero literário aqui neste espaço, recebendo o retorno
de tantas pessoas, cuja generosidade serviu para retroalimentar e incentivar o
prosseguir na labuta escritural, mesmo quando a inspiração decidia passar ao
largo. O que inspira, na verdade, é a vida, e essa, segue sempre,
independentemente das mudanças, que, via de regra, são excelentes incentivos ao
movimento e às reformatações. Abraços e boas leituras a todos.
- Última crônica publicada no jornal
Pioneiro, em 16 de março de 2020, após 10 anos como cronista do jornal
(iniciado em 24 de dezembro de 2009).