Nunca é tarde para aprender lições de vida. Nossos avós
nos ensinam com sua larga experiência palmilhando as nuances da existência, é
verdade. Aprendemos com eles se estamos dispostos a ouvi-los. Depende de nós
saber sorver dos mais velhos a vivência que vão acumulando no transcorrer de
suas jornadas e que generosamente compartilham. Se fazemos ouvidos moucos ao
que nos dizem, azar o nosso. Bateremos com a cara contra a parede por conta e
risco. Saberemos que dedo na tomada dá choque enfiando o dedo na tomada e
arcando com a consequência (no caso, a dor do choque e a humilhação de termos
sido avisados e insistido na patuscada). No frigir dos ovos, tudo sempre
depende de nós mesmos, de como nos posicionamos, das escolhas que fazemos.
Eu, dia desses, aprendi que é preciso pensar um pouco
antes de dizer “sim”. Já estava na hora, afinal, faz anos que não cozinho mais
na primeira fervura. E aprendi levando no lombo, para não citar outra região
anatômica propícia a sentir as dores do aprendizado que se dá quando não se usa
a sabedoria. Antes de um “sim”, há que se refletir, para que a anuência seja
consciente e suas consequências devidamente sopesadas. Mas não foi assim no momento
em que meu afilhado de quatro anos de idade (quase cinco) resolveu passar o
sábado na casa dos dindos, mochila nas costas, escova de dentes, mamadeira,
cachorro de pano a tiracolo.
Depois de várias aventuras inenarráveis, voltamos para
casa após o almoço no shopping com um recém comprado livro de atividades em que
havia figuras a serem destacadas e adesivadas nas páginas dos respectivos
cenários: gatos, flores, abelhas, monstros amigáveis, corações, barcos lilases
e assim por diante. Destacávamos as figuras e nos divertíamos tentando definir
o melhor lugar no livro para grudá-las. Isso até o momento em que o afilhado
decide fazer uma pergunta. “Posso colocar no seu quarto os adesivos, dindo”?
Ora, sim, pode, ué. Imaginei que ele quisesse guardar no meu quarto o livro de
adesivos. E disse “sim”.
Foi o que bastou para que a cabecinha voasse corredor
adentro e sumisse em silêncio no quarto por alguns minutos. Silêncio de criança
requer investigação, já diziam nossas avós. Então, fui ver. Fui ver e deparei
com as paredes de meu quarto totalmente redecoradas (na altura de meu umbigo) com
dezenas de adesivos de monstros amigáveis, abelhas, barcos lilases,
sanduíches... “Colocar no meu quarto” não significava “guardar o livro no meu
quarto”. Significava grudar os adesivos nas paredes. E eu disse “sim”. Pelo
menos, ficou bonitinho...
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 20 de março de 2017)
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