Na verdade, só mudam o nome e a nacionalidade, mas a essência é sempre a
mesma. Hoje em dia, a nacionalidade dele é norte-coreana e seu nome é Kim
Jung-Un, presidente ditatorial vitalício da nação asiática. Até bem pouco tempo
atrás, quem cumpria o papel era Osama Bin Laden, o saudita fundador e líder da
organização terrorista al-Qaeda, a quem se atribui o planejamento e a execução
de atentados como o das Torres Gêmeas nos Estados Unidos, em setembro de 2001. Laden
deixou o posto ao ser assassinado em uma operação secreta comandada pela CIA.
Mas houve muitos antes dele, revezando-se ao sabor das necessidades
norte-americanas de manter sempre na mira a figura do “inimigo público
internacional número 1”.
A lista pode ser facilmente preenchida quando nos dedicamos a relembrar
um pouco o cenário da política internacional das últimas décadas. Antes do
explodidor de bombas atômicas norte-coreano e do líder terrorista saudita, o
papel foi desempenhado (mesmo que à revelia e a contragosto) por diversas
figuras hoje históricas. Vamos a algumas delas, só para ilustrar e refrescar a
memória: Saddam Hussein, do Iraque; aiatolá Khomeini, do Irã; Muamar Khadafi,
da Líbia; Kim Jong-il, também da Coreia do Norte, pai do atual líder daquele
país; Idi Amin Dada, de Uganda; e até mesmo os sul-americanos Hugo Chávez, da
Venezuela, e Fidel Castro, de Cuba, integraram o time. Durante o período da
Guerra Fria, em que os mundos capitalista e comunista rosnavam um contra o
outro, não faltaram líderes de países comunistas a se verem instalados no
desconfortável trono, como os do Vietnã do Norte que entraram em refrega direta
contra os Estados Unidos e vários dirigentes soviéticos como Nikita Kruchev e
Leonid Brejnev, apelidados pelos norte-americanos de comandantes do “Império do
Mal”.
Direcionar os temores mundiais, as frustrações e os ódios latentes contra
figuras internacionais que pressupostamente encarnam o mal é uma estratégia
antiga e surrada, usada à larga pelas nações líderes, a fim de se manterem no
topo da orquestra, dando o tom da sinfonia, que deve tocar as valsas no
compasso que elas desejam. Os Estados Unidos são experts em criar supervilões
internacionais que sejam constantemente combatidos, até porque, existe uma
indústria armamentista que gera lucros astronômicos e precisa ser alimentada. A
pergunta que não quer calar, porém, nesses dias hodiernos, é: e o que fazer
quando o “inimigo público internacional” parece estar sentado no Salão Oval da
Casa Branca, travestido de presidente? Xiii...
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 30 de outubro de 2017)
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