Estamos sós. Após tantas
especulações, depois de tanto investimento em pesquisas astronômicas e
astrofísicas, após tantos debates e dezenas de centenas de milhares de relatos
de possíveis encontros e de supostos avistamentos, após tantos filmes e livros de
ficção-científica, parece que, a bem da verdade, a humanidade é mesmo a única
expressão de vida inteligente existente em todo o universo. Ao menos, essa é a
conclusão a que chegaram recentemente três (obviamente inteligentes) cientistas
da Universidade de Oxford, que se dedicaram a analisar minuciosamente as leis
da probabilidade que entram em cena quando a questão é admitir ou não, na
teoria, a existência de outras civilizações habitando outros planetas em
distantes galáxias. Conforme o resultado do estudo, é bom irmos nos acostumando
com a ideia: o quintal do universo é todo nosso. Não temos vizinhos. Estamos
sós.
Os autores do estudo são Anders
Sandberg, pesquisador do Instituto Futuro da Humanidade, da Universidade de
Oxford; o engenheiro Eric Drexler, responsável por popularizar o conceito de
nanotecnologia; e Tod Ord, professor de Filosofia também em Oxford. Detalhando
as coisas, o trio de humanas inteligências científicas demonstra que, apesar do
incontestável fato de existirem bilhões de galáxias no universo, e que cada uma
dessas galáxias contempla a possibilidade (a possibilidade, ressalte-se bem, e
não a certeza inequívoca) da existência em seus sistemas solares de planetas
habitáveis, e que em alguns desses trocentos milhões de planetas habitáveis
pode ter surgido vida, e entre essas tantas vidas poder haver vida inteligente,
apesar disso tudo, nada, absolutamente nada, mas nadica de nada e nadinha
garante que de fato ela exista fora daqui da Terra. E dizem mais, os três
impiedosos inteligentes cientistas oxfordianos: asseguram que a possibilidade
de estarmos, nós, terráqueos, sós no universo, em termos de expressão de vida
inteligente, beira à casa dos 85%. Mas que barbaridade, diria um solitário e
silencioso Blau Nunes à noite, a sorver sua cuia de chimarrão enquanto observa o
céu estrelado das solidões pampeanas gaúchas. Que barbaridade!
Porém, Blau Nunes, frente a isso
tudo, não consegue evitar chegar à seguinte conclusão: se for levado em conta
que o parâmetro atestado para classificar como “inteligente” determinada forma
de vida for aquele que enquadra no topo da lista os seres humanos que habitam o
planeta Terra, então, o mais correto seria afirmar que é o Universo inteiro
quem está só, absolutamente só, deserto e inabitado. Que barbaridade!
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 2 de julho de 2018)
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