Cheguei ontem de Pasárgada e trago más notícias para quem andava pensando em seguir a dica do Poeta e ir-se embora para lá em busca de um refúgio contra o caos da vida mundana. Primeiro, após tomada a decisão de voltar e comprada a passagem, penei, no Aeroporto Pasargadense Manuel Bandeira, um atraso de doze horas. Mas isso foi apenas o capítulo final de uma experiência que deveria ter sido redentora e se revelou um embuste fruto de propaganda enganosa.
A Pasárgada de hoje não se assemelha em nada ao paraíso cantado nos anos 30 do século passado pelo Poeta. A começar pelos desmandos decorrentes da troca de favores e da prática do apadrinhamento político que regem a administração pública. Todos, em Pasárgada, são amigos do Rei, e o Rei, que sempre quis ter um milhão de amigos, agora precisa acomodar cada um deles em carguinhos públicos a partir dos quais exaurem as riquezas do reino e atravancam o desenvolvimento do Paraíso.
Cheguei lá acreditando piamente que teria a mulher que eu desejasse na cama que escolheria, mas a rede hoteleira e moteleira estava lotada, não dando conta de hospedar tantos peregrinos iludidos que chegam aos borbotões. Sem falar que a Scarlet Johansson nem mesmo estava lá. Para completar, também as mulheres de Pasárgada se libertaram, não são mais objetos nem submissas, trabalham e – surpresa – quem escolhe agora são elas e – surpresa maior ainda – meu perfil não atendeu aos requisitos mínimos das exigências de nenhuma delas.
Resignado, tentei recordar das partes menos conhecidas do poema para ver o que restava de atrativos por ali fora a amizade do Rei e o mulherio à vontade em qualquer cama, e procurei pelas atividades saudáveis como andar de bicicleta, fazer ginástica, montar em burro brabo, subir no pau-de-sebo e tomar banho de mar. Mas qual! As ruas estão tomadas por veículos nervosos e engarrafados (não há espaço para bicicletas e nem burros brabos ou mansos), o mar poluído não está nem para peixe e pau-de-sebo ninguém mais sabe o que é. Não deu nem para reclamar, porque lá não existem Procons. O Rei não deixa.
Vim-me embora de Pasárgada. O jeito é arregaçar as mangas e tentar ajudar a melhorar as coisas por aqui mesmo...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10/12/2010)
A Pasárgada de hoje não se assemelha em nada ao paraíso cantado nos anos 30 do século passado pelo Poeta. A começar pelos desmandos decorrentes da troca de favores e da prática do apadrinhamento político que regem a administração pública. Todos, em Pasárgada, são amigos do Rei, e o Rei, que sempre quis ter um milhão de amigos, agora precisa acomodar cada um deles em carguinhos públicos a partir dos quais exaurem as riquezas do reino e atravancam o desenvolvimento do Paraíso.
Cheguei lá acreditando piamente que teria a mulher que eu desejasse na cama que escolheria, mas a rede hoteleira e moteleira estava lotada, não dando conta de hospedar tantos peregrinos iludidos que chegam aos borbotões. Sem falar que a Scarlet Johansson nem mesmo estava lá. Para completar, também as mulheres de Pasárgada se libertaram, não são mais objetos nem submissas, trabalham e – surpresa – quem escolhe agora são elas e – surpresa maior ainda – meu perfil não atendeu aos requisitos mínimos das exigências de nenhuma delas.
Resignado, tentei recordar das partes menos conhecidas do poema para ver o que restava de atrativos por ali fora a amizade do Rei e o mulherio à vontade em qualquer cama, e procurei pelas atividades saudáveis como andar de bicicleta, fazer ginástica, montar em burro brabo, subir no pau-de-sebo e tomar banho de mar. Mas qual! As ruas estão tomadas por veículos nervosos e engarrafados (não há espaço para bicicletas e nem burros brabos ou mansos), o mar poluído não está nem para peixe e pau-de-sebo ninguém mais sabe o que é. Não deu nem para reclamar, porque lá não existem Procons. O Rei não deixa.
Vim-me embora de Pasárgada. O jeito é arregaçar as mangas e tentar ajudar a melhorar as coisas por aqui mesmo...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10/12/2010)
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