Perdi uma aposta que fiz comigo mesmo. Mentalmente, não dei dois dias para que fosse depredada a simpática decoração natalina que meu vizinho implementou num pinheirinho que se cria na calçada na divisa entre nossas moradas. A arvorezinha mede pouco mais de dois metros de altura e acompanho seu desenvolver a partir da janela do segundo andar de minha casa, onde fica meu escritório. Paralelamente a ela, cresce também o filho de meu vizinho, para quem ele decidiu decorar o pinheirinho com luzes piscantes, bolas coloridas e até uma estrela no topo.
“Não vai durar duas noites”, sentenciei eu, no silêncio interno de minha consolidada desilusão em relação à humanidade, advinda do acúmulo de anos, de vivências, de observações, de leituras. Não era um vaticínio, tampouco uma praga velada. Pelo contrário, o pensamento configurava-se como uma triste constatação de uma obviedade que, a meu ver, só mesmo uma possível ingenuidade ainda existente na alma de meu vizinho poderia impedir de ver. Torci para que eu estivesse errado, porém, no íntimo, julgava ser uma questão de poucas noites para que os enfeites amanhecessem vítimas da ação dos vândalos.
Pois errei. Redondamente enganei-me. Manhã após manhã, ao acordar e abrir as cortinas da janela, venho me deparando com o pinheirinho ali, impávido, incólume, as luzinhas piscando, a estrela firme encimada na ponta mais alta e os galhos engalanados com as cores das bolinhas. Que fenômeno! Que fato novo! Que pauta para ilustrar as manchetes dos jornais! “Decoração de pinheirinho em via pública resiste ao barbarismo urbano”. Seria algo assim a minha manchete, no meu fictício e impraticável jornal-de-somente-boas-notícias.
O que é que deu nos vândalos que não chutaram as bolinhas, não morderam os fios, não estraçalharam as luzinhas, não despedaçaram a estrela? Por que é que decidiram deixar em paz um trabalho feito para embelezar e compartilhar o espírito natalino? Estão ocupados demais destruindo patrimônios públicos e privados e se esqueceram do pinheirinho, só para impedir que eu decrete de vez minha desilusão e desesperança em relação à humanidade? Perdi a aposta, mas ganhei um sopro de fé que certamente me será vital...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 03/12/2010)
“Não vai durar duas noites”, sentenciei eu, no silêncio interno de minha consolidada desilusão em relação à humanidade, advinda do acúmulo de anos, de vivências, de observações, de leituras. Não era um vaticínio, tampouco uma praga velada. Pelo contrário, o pensamento configurava-se como uma triste constatação de uma obviedade que, a meu ver, só mesmo uma possível ingenuidade ainda existente na alma de meu vizinho poderia impedir de ver. Torci para que eu estivesse errado, porém, no íntimo, julgava ser uma questão de poucas noites para que os enfeites amanhecessem vítimas da ação dos vândalos.
Pois errei. Redondamente enganei-me. Manhã após manhã, ao acordar e abrir as cortinas da janela, venho me deparando com o pinheirinho ali, impávido, incólume, as luzinhas piscando, a estrela firme encimada na ponta mais alta e os galhos engalanados com as cores das bolinhas. Que fenômeno! Que fato novo! Que pauta para ilustrar as manchetes dos jornais! “Decoração de pinheirinho em via pública resiste ao barbarismo urbano”. Seria algo assim a minha manchete, no meu fictício e impraticável jornal-de-somente-boas-notícias.
O que é que deu nos vândalos que não chutaram as bolinhas, não morderam os fios, não estraçalharam as luzinhas, não despedaçaram a estrela? Por que é que decidiram deixar em paz um trabalho feito para embelezar e compartilhar o espírito natalino? Estão ocupados demais destruindo patrimônios públicos e privados e se esqueceram do pinheirinho, só para impedir que eu decrete de vez minha desilusão e desesperança em relação à humanidade? Perdi a aposta, mas ganhei um sopro de fé que certamente me será vital...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 03/12/2010)
Um comentário:
acho q fé em boas coisas sempre vale a pena, pois de certo modo papai noel tem de existir.
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