Não preciso de convocação e nem
de intimação com dedo em riste. Nada disso. Quando a ordem do dia consiste em
rumar para uma loja infantil escolher brinquedo para dar de presente ao
afilhado, dispenso ultimatos e já estou no carro, motor ligado, cinto colocado,
mãos no volante.
Vamos, vamos, que sou fissurado por
loja de brinquedos. Sinto-me como que mergulhando em um país das maravilhas
toda vez que entro em algum desses estabelecimentos, distanciando-me da crueza
do mundo adulto que parece ser represado do lado de fora daqueles domínios ao
custo de nossas infâncias hoje perdidas. Perdidas em termos etários, mas não
necessariamente sufocadas devido às responsabilidades inerentes à vida adulta.
A criança que fui segue habitando em mim ao longo de minha existência, e ela
exulta nesses deliciosos momentos que antecedem datas comemorativas em que o
afilhado merece presentes.
Para mim, o presente é justamente
poder passear pelas gôndolas me encantando com as infinitas possibilidades de
abertura de mundos mágicos e lúdicos geradas pelos inúmeros brinquedos que nelas
repousam, cada um fazendo silenciosamente o seu apelo para ser levado junto.
Nos meus tempos de criança, lá em Ijuí, essa magia se materializava sempre que
meus pais me levavam para lojas como a Ki-Presentes, A Boa Compra ou a Livraria
Cultural, para escolher algum brinquedo. Tive uma infância repleta deles, dos
quais lembro com especial carinho do Forte Apache; dos bonequinhos dos
personagens de Walt Disney e da Turma da Mônica; da fantasia do Zorro com
máscara, capa e espada; do revólver de espoleta com o qual caçava índios
imaginários (hoje corretamente relegado à condição de brinquedo politicamente
incorreto); do Estrelão, campinho de madeira compensada sobre o qual jogava
futebol de botão; do teatrinho de fantoches com o qual aprendia a inventar
histórias (mania que grudou em mim para sempre e que hoje pratico sob outras
roupagens) e tantos outros.
Nada melhor para a construção de
uma vida positiva do que uma infância feliz permeada de brinquedos. Sorte
minha. Sorte a de meu afilhado. Pena que essa sorte ainda não seja a realidade
de todos. Mas sorte é algo que a sociedade consegue mudar sempre que deixa de
brincar com coisa séria, e a infância dos cidadãos é uma delas. Ah, o Dia das
Crianças está aí!
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