Vamos lá, vamos lá, vamos nos
mexer e descruzar esses braços. Basta um punhadinho dumas trocentas mil
assinaturas para encaminhar, via iniciativa popular, um projeto de lei a ser
apreciado pelo Congresso Nacional. Feito isso, com mais um pouquinho de
pressão, a gente altera as leis que não nos são satisfatórias.
Eu já estou me mexendo e dei
inicio a um abaixo-assinado recolhendo adesões à minha proposta de revogar a
lei que mais ando detestando ultimamente: a da gravidade. A gota d´água que
transbordou meu copo de paciência pingou anteontem de manhã, quando eu me
transtorcia para reinstalar um forno elétrico enquanto ao mesmo tempo encaminhava
a instalação do forno de microondas (como todo bom cidadão desse estimulante
século 21, preciso de todos os tipos de forno existentes no mercado, como
pode-se bem perceber). Escorava o elétrico com a cintura enquanto dava-lhe as
costas para pegar o de microondas que estava sobre a mesa quando, nesse
contorcionismo de vai-vem corporal, o elétrico esquivou-se não sei como da
longa e avantajada superfície de minha barriga e veio estatelar-se com estrondo
e determinação contra o chão que dele distava não mais que um metrinho.
Mas o suficiente para fazê-lo em
pedaços e injuriar meu pé que ainda hoje, ao narrar o feito, lateja ali
embaixo. Culpa de quem? Da lei da gravidade, essa bandida puxadora de tapetes
metafóricos e concretos. Culpa dela, também (foi o que me pus a refletir
enquanto juntava cacos, peças e partes), o processo irreversível de queda da
barriga de certos mamíferos bípedes portadores de sedentarismo crônico... da
queda de cabelo em mamíferos similares em idades que se botam a superar o tempo...
da desfiguração e queda do formato altivo e principesco dos seios das fêmeas da
espécie com o andar do mesmo tempo... enfim, sem mais delongas, revoguemos a
lei e experimentemos um novo e estimulante período de existência no qual
haveremos de flutuar mais levemente as nuances de nossas existências.
Feito isso, podemos vir a pensar
sobre o que fazer com a tal da passagem do tempo, citada por tabela na
descrição anterior dos malefícios dessa já cansativa lei da gravidade, que nada
mais fez senão lançar à fama o Issac Newton com aquela maçã que lhe melou a
cabeça. Mas já estou a cair em devaneios. A gravidade, outra vez...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 18 de outubro de 2013)
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