Dia desses vi circular pela internet um artigo de um jornalista do centro
do país elencando cinco “roubadas” (definidas por ele) para se evitar ao
visitar certa cidade turística da Serra Gaúcha. Apesar do título chamativo,
logo fica claro, na leitura do texto, que as tais “roubadas” não passam de
ataques direcionados à essência daquilo que o turista encontra ao visitar a cidade,
como sua gastronomia, sua estrutura, suas atrações. Não é um texto crítico,
porque não amplia as fontes, não oferece o contraponto, não aprofunda as
questões, não busca alternativas. A intenção do autor é uma: atacar,
desconstruir, fazer terra arrasada e escapulir das cinzas exibindo a própria
(autossuposta) sagacidade.
Uma cidade turística (ou não) tem problemas? Claro que sim. Qual não tem?
Melhorar, desenvolver, organizar, são metas constantes dos administradores
(públicos e privados) de qualquer município, empresa, estado, país,
instituição, grupo, comunidade, o que for. Por isso, críticas e sugestões são
sempre bem vindas por parte de quem está envolvido nos processos de gestão. Mas
é fácil separar a crítica construtiva do raso ataque destilador de peçonha. E
estamos a viver um tempo em que a destilação da peçonha virou o senso comum a
pautar a maioria das manifestações em todas as plataformas dos relacionamentos
humanos. Picar e injetar veneno virou esporte nacional, a despeito de classe
social ou de nível de instrução. Combater o ódio com o ódio se transformou em
alternativa instantânea para o descarrego urgente das insatisfações, porém, o
método não acarreta melhora alguma no quadro, pelo contrário, só amplia o mar de
ódio. Os ataques deselegantes resultam no imediato nivelamento do atacante ao
perfil de seu alvo.
Desconstruir, desmoralizar, consolidar pré-conceitos, endemonizar virou
moda. “Vejam como sou esperto, olhem só como mordo, como sou temerário” são os
motivadores das ações grotescas da maioria contra os alvos que elegem para
receber as toneladas de ódio que brotam dos gramados sombrios de suas próprias
índoles. São usinas de produzir raivosidades que não hesitam em metralhá-las em
volta, desde que, claro, elas não os atinjam. Imaginam que, latindo e mordendo,
se colocam a salvo do julgamento dos outros, posicionando-se no topo da pirâmide
da intocabilidade. Empreendem energia não para criar e transformar para melhor,
mas para latir enquanto as caravanas construtivas passam.
Frente a esse quadro, é melhor já ir intitulando minha própria lista de
antídotos anti-peçonha: “Trocentos motivos para ficar na minha”.
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 14 de agosto de 2017)
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