Ele é meu grande amigo, parceiro, companheiro e conselheiro. Travamos
relações íntimas e amistosas há mais de meio século, desde que vim ao mundo. Multifacetado,
apresenta-se a mim diariamente sob formas variadas, surpreendendo e colaborando
para a ampliação de minha visão de mundo. Frequenta minha casa, onde é sempre
bem-vindo e tem lugar de honra garantido devido à importância que sua presença
exerce sobre os rumos de minha vida. É silencioso, mas estabelece comunicação
profunda com minha essência, conhecendo como ninguém os caminhos que conduzem à
minha alma, aprimorando-a, transformando-a, moldando-a, gerando um processo
contínuo e infinito de construção, sempre para melhor.
Ele tem muito a dizer, mas só o faz quando é convidado a se aproximar e a
compartilhar o conteúdo da sabedoria que conserva latente em sua forma peculiar
de ser e de se apresentar ao mundo. É discreto, nada impõe, mas sei que cultiva
uma ansiedade perene por ser evocado à minha presença quando possível e,
felizmente, esses momentos de encontro têm sido criados com determinação diária
dentro das brechas de minha agenda, há décadas. Sempre há e seguirá havendo
espaço para encontrá-lo, pois sei que saio aprimorado de cada um desses
momentos, por mais efêmeros que eventualmente sejam. Sabe-se que o segredo para
cultivar uma amizade significativa e profunda é a manutenção da relação por
meio do contato, mesmo que eventual. No nosso caso, ele é diário e antigo,
iniciado ainda antes mesmo de eu nascer, durante a gestação na barriga de minha
mãe, quando ela esperava por minha chegada já na companhia desse que se
transformaria também em meu valoroso amigo: o livro.
Dedico a ele as linhas desta crônica de segunda, neste 23 de abril, Dia
Mundial do Livro, data instituída pela Unesco por evocar as mortes de
escritores basilares da literatura universal como Miguel de Cervantes e William
Shakespeare (ambos em 1616). Apesar do advento da era da informática e da vida
digital e virtual, o livro, essa invenção ancestral, segue firme sendo um
instrumento poderoso e inigualável de formação de cidadãos plenos e de
transformação humana. Tenho convicção de que, a partir do estabelecimento de
uma relação íntima e pessoal com o livro e com a leitura, a pessoa asfalta e
consolida sua estrada rumo à humanização constante de si mesma. Mais livro e mais
leitura é mais tolerância, menos preconceito, mais sabedoria, mais convivência,
mais maturidade, mais alegria, mais justiça, mais saúde física, mental, espiritual
e social. Parabéns pelo seu dia, valioso amigo!
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 23 de abril de 2018)
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