O Tempo e a Memória são elementos invisíveis que operam em conjunto nas
sombras da existência para conferir (ou não) permanência aos nomes de quem
viveu. Há aqueles que se assentam em lugares perenes na História devido aos
seus feitos transformadores ou destruidores; esses são os vultos ilustres que
perpassam gerações e ultrapassam fronteiras. Há aqueles cuja amplitude de
referência se restringe a círculos mais íntimos ou restritos, em especial nos
âmbitos familiares ou de comunidades específicas, postos que podem ser ocupados
pelas pessoas ditas comuns. E há aqueles cujos nomes simplesmente se esvanecem
em meio à penumbra do Tempo, restando fios de sua memória latentes somente
enquanto viverem aqueles que fizeram parte de seus círculos de relações.
Depois, tudo volta ao nada, e é assim com a maioria de todas as gentes que
existem, que já existiram e que ainda virão a existir. Nosso destino geral é o
des-existir absoluto.
O que fazer para driblar as armadilhas do esquecimento e alcançar a
permanecência mesmo após nosso desaparecimento físico? Esse é um mistério cuja
fórmula o Tempo e a Memória jamais revelam, mantendo acesa a chama da surpresa,
do imponderável e do inexplicável. Reflexões como essas me assaltam quando, por
exemplo, observo o calendário e verifico que a quinta-feira desta semana, dia
12 de abril, é uma data que se reveste de significância especial para quem trafega
pelo universo da literatura e da cultura serrana e gaúcha, pois que estaremos
celebrando os 125 anos de nascimento da poetisa Vivita Cartier, nascida a 12 de
abril de 1893 em Porto Alegre e falecida em 21 de março de 1919 em Criúva, onde
segue sepultada há 99 anos. Arrebatada da existência física por uma tuberculose
que lhe fez penar os últimos sete anos de existência, Vivita acumulou somente
25 anos de vida, período em que não casou, não deixou filhos, mas dedicou-se à
construção de uma persona poética que legou à posteridade uma dezena de poemas
conhecidos e uma trajetória que configurou-se em mito. Como? Por quê? De que
maneira seu nome de curta existência e sua obra de modesto volume driblaram as
brumas do esquecimento e se fazem presentes, ativos e “audíveis” até os dias de
hoje?
Qual o mistério que explica sua permanência e sua influência? Por onde
passam os meandros da manutenção da sua memória? Questões como essas, e muitas
outras, estarei debatendo com quem desejar comparecer esta noite a mais uma
edição gratuita e aberta da Órbita Literária, a partir das 20h, ali na Livraria
e Café do Arco da Velha (Rua Dr. Montaury, 1570). Todos convidados.
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