Não é todo mundo que tem o privilégio de receber uma ópera inspirada em
livro de sua autoria como presente de aniversário. Também não é todo mundo que
possui a capacidade e o talento para produzir uma obra que mereça ser
transformada em ópera, depois de já ter sido transposta das páginas originais
do livro em que foi concebida para as telas do cinema (chegando a concorrer ao
Oscar de Melhor Filme Estrangeiro). Afinal, não é todo mundo que se dedica com
afinco a construir diariamente, ao longo de mais de seis décadas, uma sólida e
profissionalizada carreira de escritor, a ponto de gerar obras de consistência
estética e literária. Isso porque não é todo mundo que se chama José Clemente
Pozenato, que segue a passos firmes rumo à completude de seus primeiros 80 anos
de idade, a serem oficializados no próximo dia 22 de maio.
Só José Clemente Pozenato se chama José Clemente Pozenato, e só a ele
cabe administrar essa sua muito bem construída biografia pessoal consolidada
nos pilares de uma intensa, criativa, rica e generosa vida dedicada à cultura,
à educação e às artes, em especial a da escrita. Pozenato chega aos 80 anos
usufruindo a expectativa pela montagem de seu livro “O Quatrilho” em formato de
ópera, que estreia no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, no dia 28 de julho, e
depois em Caxias do Sul em 18 de agosto, no Teatro do Colégio Murialdo. “É meu
presente de aniversário”, exclama o aniversariante, devoto de Santa Rita (que
rege a data de seu nascimento), “a santa das causas impossíveis”, conforme
ressalta.
Pozenato tem dedicado 65 de seus 80 anos à causa de transformar em
possível uma vocação minuciosa ao labor da escrita, alimentada pelo único
combustível conhecido: a leitura criteriosa daqueles que, como ele, entendem do
ofício. O rapaz natural de São Francisco de Paula que escreveu seus primeiros
poemas aos 15 anos de idade e venceu seu primeiro concurso literário aos 17, transformou-se
em um referencial da escrita não por acaso. Pozenato lê, e muito, sempre
procurando compreender a técnica existente por trás de uma frase bem escrita de
Machado de Assis e de Clarice Lispector ou de um verso feliz de Petrarca, de
Ovídio, de Virgílio (a quem, por sinal, lê no original), de Manuel Bandeira, de
Cecília Meireles, de Drummond... Não se chega aos 80 anos por acaso. Também não
se constrói uma carreira literária sólida por acaso. José Clemente Pozenato não
é fruto do acaso, e a forma como vem compartilhando seu talento é o presente de
aniversário com que brinda a todos nós. Parabéns, generoso Mestre!
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 14 de maio de 2018)
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