Enquanto aqui em Caxias do Sul celebramos a goles de graspa e vino rosso a coroação do novo trio de
soberanas da Festa da Uva, entronizadas na noite do último sábado, os
britânicos espalhados pelo planeta seguem elevando brindes com suas “pints” ao
enlace matrimonial de seu Príncipe Harry com a atriz norte-americana Meghan
Markle, ocorrido também no sábado, devidamente distanciados os dois eventos em termos
de fuso, pompa, gala e gastos. Conforme me ia relatando o barbeiro, na gélida
manhã de sábado da semideserta Caxias encarangada de frio, enquanto conduzia
por minha cabeça a máquina de corte (que pouca resistência capilar encontrava
pelo caminho), informado que estava a respeito dos dois majestosos eventos, soube
que só o vestido de noiva da sorridente Meghan custara cerca de 500 mil reais.
Coisa de arrepiar os cabelos, caso eu os tivesse em volume suficiente que
justificasse idas mais frequentes ao encontro do atilado profissional da
tesoura, do corte e da costura de dados curiosos.
Quinhentos mil reais por um vestido de noiva é coisa que dá o que pensar.
Bem, né, madama, dá o que penar às cabeças de nosotros, terceiro-mundistas militantes das plagas de cá das
mazelas do mundo, espevitados que andamos com os escândalos financeiros envolvendo
políticos nacionais, cujas cifras permitiriam financiar vestidos de casamentos
reais por gerações e gerações de sangues azuis sem pestanejar. A sorridente
Meghan deve ser a última mortal do mundo a encasquetar-se com isso,
especialmente hoje, em que já deve estar saboreando as delícias da sua edílica
lua-de-mel com a real barba-ruiva de seu marido em um hotel de luxo lá na
Namíbia, sul da África, emoldurada ao pôr-do-sol e ao rugir dos leões e das
zebras. Das zebras não, que zebra não ruge, né, madama. Dos leões e dos tigres,
então. Como? Tigres também não, pois não há tigres na África, só na Ásia? Ora,
madama, Ásia, África, tigre, leão, vestido caro, e lá a norte-americanice
natural de Meghan e seu sorriso haverão de se importar com esses frivolidades? Ela
está é dedicada a usufruir de sua suíte de 2,5 mil reais a diária, isso sim,
onde há de haver um cofre grandão para guardar seu vestido de meio milhão de
dinheiros.
Ou isso, ou está analisando as provas da estátua de cera de sua pessoa, a
ser instalada no Museu da Madame Tussauds, em Londres, para que nós, da plebe mundial,
possamos fazer selfies ao lado de sua
agora nobre imagem. Tudo isso fiquei sabendo ao longo do corte, por meio do
barbeiro esclarecido. Pena que pouco me sobrou sobre a cabeça para sair dali
devidamente arrepiado.
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro" em 21 de maio de 2018)
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