A constância da instabilidade climática é um dos mais importantes fatores de estímulo à agregação social existentes no mundo. Ter sempre à mão a opção de ingressar pelas veredas do clima em situações de iminente embaraço social é um poderoso instrumento a serviço da sociabilidade humana, sem o qual certamente estaríamos ainda relegados a condições bem mais bárbaras de convivência. Quantos amigos já não fizemos na vida simplesmente mergulhando de mãos dadas em vitupérios contra as chuvas e a umidade, ou deleitando-nos em uníssono pelo retorno do sol que volta a brilhar? A volubilidade das condições meteorológicas é um presente dos deuses na pavimentação de nossa evolução.
Semana passada mesmo, ao dividir um táxi com um estranho, encontrei nele uma comunhão incrível de opiniões, suscitadas por nossa mútua habilidade em desenvolver o tema. Foi assim:
- Bom dia!
- Sim, agora, sim, bom dia, né.
- Pois é, esquentou. Parece primavera.
- Prefiro assim.
- Eu também.
- Chega de chuva.
- Chega.
- Nem parece inverno. Hoje em dia, o frio começa mais tarde e se estende até o final do ano.
- O veranico de maio agora é em agosto.
- É. No meu tempo, verão era verão e inverno era inverno.
- E primavera era primavera.
- Está tudo mudado.
- Tudo.
- Que coisa.
- Bota coisa nisso!
- Bem, tchau, hein.
- Tchau, prazer em conhecê-lo.
- Idem.
Um bom sujeito, com certeza. Opiniões fortes, surpreendentes. Esquecemos de trocar cartões, mas, se o tempo ajudar, haveremos de nos encontrar novamente. Ah, como é bom fazer novos amigos! Bons tempos, esses.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 27/08/2010)
Semana passada mesmo, ao dividir um táxi com um estranho, encontrei nele uma comunhão incrível de opiniões, suscitadas por nossa mútua habilidade em desenvolver o tema. Foi assim:
- Bom dia!
- Sim, agora, sim, bom dia, né.
- Pois é, esquentou. Parece primavera.
- Prefiro assim.
- Eu também.
- Chega de chuva.
- Chega.
- Nem parece inverno. Hoje em dia, o frio começa mais tarde e se estende até o final do ano.
- O veranico de maio agora é em agosto.
- É. No meu tempo, verão era verão e inverno era inverno.
- E primavera era primavera.
- Está tudo mudado.
- Tudo.
- Que coisa.
- Bota coisa nisso!
- Bem, tchau, hein.
- Tchau, prazer em conhecê-lo.
- Idem.
Um bom sujeito, com certeza. Opiniões fortes, surpreendentes. Esquecemos de trocar cartões, mas, se o tempo ajudar, haveremos de nos encontrar novamente. Ah, como é bom fazer novos amigos! Bons tempos, esses.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 27/08/2010)
Um comentário:
Bah, a temática dessa crônica poderia ser um baita clichê não fosse a competência de quem a escreveu e que soube muito bem agregar ao texto a situação "metereológica" cotidiana, mas também demarcou, poeticamente, o que a mesma situação pode nos proporcionar: fazer amizades.
Acho que vou começar a propor corridas de táxi compartilhadas... mesmo que eu receba como resposta ao meu "prazer em conhecê-lo" um enorme e bem pronunciado "o desprazer foi todo meu". Amigos instantâneos também estão valendo, eu acho! rsrsrs
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