Publicar livros nos dias de hoje ficou relativamente fácil. Pululam concursos literários e leis de incentivo dispostos a bancar os custos de edição de sua obra. As editoras, que antes de qualquer outra coisa são um negócio, abrem subdivisões (novos selos) por meio das quais oportunizam qualquer cidadão que se julgue escritor a editar e publicar seu livro, desde que arque ele mesmo com os custos. Os valores não são exatamente baixos, mas ficaram acessíveis, viáveis, próximos aos de um carro popular usado. Para quem acalenta o sonho de ver seu nome impresso como autor na capa de um livro, é um investimento possível de ser concretizado.
O problema vem na sequência. Livro escrito, obra publicada, sessão de lançamento feita (você conseguiu uma notinha de rodapé em um ou dois jornais da cidade, sua mãe e cônjuge marcaram presença e não o deixaram lá abandonado e com cara de suricato perdido no deserto), uma ou duas livrarias oferecendo o título à venda... só falta uma coisa. O leitor! Quem vai lê-lo? Eu digo, quem, além de sua mãe, seu cônjuge e um ou outro amigo de fé e irmão camarada? Quem? O que fazer com todos os outros 995 exemplares que você pagou para virem à luz (ou os outros 495, se você desde o início é alguém que tem mais do que meio pé fincado na realidade)? Até quando vai ser obrigado a dormir em cima deles, a conviver com a tiragem toda roncando debaixo da sua cama?
Bom, gostaríamos que eles fossem lidos pelas pessoas, não é isso? Pois é, e aí, o que fazer para que isso aconteça? Qual é a fórmula? O que é que motiva, afinal de contas, o leitor comprador de livros a invadir a livraria com dinheiro na carteira e, entre o título de Marcos Fernando Kirst e o mais recente romance espetacular de Dan Brown, optar por este último? Afinal de contas, ele ainda não leu nem um e nem outro. Ambas as leituras são igualmente virgens e repletas de promessas de prazer e satisfação (literários) para ele. Então por que ele opta pelo Dan Brown? Por quê? Por quê? Por quê? Hein?
Pois eis a resposta milagrosa: por causa do marketing. O que vende livros é o marketing feito em cima deles. Aliás, sabão em pó e esfregão de aço também vendem assim. Boas campanhas de marketing. Você compra o Dan Brown porque todo o mundo está comprando o Dan Brown. Porque você ouviu falar na tevê, porque leu na revista e no jornal, porque está nas vitrines das livrarias, porque todo o mundo está lendo, porque foi feito um filme. Então você também lê, e ajuda a engrossar as estatísticas.
És autor desconhecido e queres ser lido? Invista em marketing. Invista pesado. E venda tudo o que mandou imprimir. Faça igual ao Luan Santana, o cantor dos jovens corações apaixonados: surja do nada já bombando como se tivesse uma estrada de décadas nas costas. Só tem uma coisa: cuide da qualidade daquilo que você alardeia ao público, porque marketing de produto meia-boca tende a jogar contra, com o passar do tempo. A maionese desanda rapidinho, se você não apresentar de fato a qualidade que andou alardeando. Só cuide disso.
(Publicado na seção "Planeta Livro", da revista Acontece, edição de novembro de 2010)
2 comentários:
"Quem vai lê-lo? Eu digo, quem, além de sua mãe, seu cônjuge e um ou outro amigo de fé e irmão camarada? Quem?"
Grande texto! Quantos não estão com esse problema por ai, hein?
É verdade, Ana. Conseguir ser lido é o grande desafio de quem se mete a escrever, nesses tempos de rasa leitura.
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