segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Quem quer dinheiro?

Pronto, agora não tem mais nem choro nem vela. Desde metade da semana passada, acabaram-se todos os prazos que a Caixa Econômica Federal havia concedido para que o felizardo sortudo paranaense de Ponta Grossa, apostador da Mega-Sena, retirasse seu prêmio de 22,9 milhões de reais. O sorteio correu no dia 10 de julho e as apostas têm validade de 90 dias. O prazo se encerrava em 10 de outubro, mas a CEF deu uns dias a mais para resgatar o valor, até 16 de outubro, devido à greve dos bancários.
Mas apesar de todo o auê feito pela imprensa, ainda alguns dias antes de vencer o prazo legal, não teve jeito de o apostador sortudo se apresentar para retirar o prêmio. E não é qualquer prêmio, convenhamos. Arredondemos, para fins de crônica, o montante para 23 milhões de reais. Baita grana, hein? E me pergunto, e pergunto a você também, leitor: o que faz um sujeito negligenciar assim, dessa forma quase acintosa, o resgate de um valor de tamanho vulto?
Sim, porque não teve jeito. O sujeito não foi porque não foi e não foi mesmo lá na agência da Caixa pegar a grana. Ele não quer os 23 milhões de reais. Não lhe fazem falta esses trocaditos. Será que foi o Eike Batista quem fez a aposta? Não, claro que não. O Eike Batista de alguns meses atrás, multibilionário, até poderia se encaixar no perfil do sortudo negligente. Mas o Eike Batista atual (e real), quebrado e afundado em dívidas, iria correndo conversar com o gerente, bilhetinho na mão, para meter nos bolsos os milhõezinhos esses.
Não foi o Eike Batista, então. O mistério permanece. Quem além do antigo Eike Batista seria tão rico a ponto de esnobar o acréscimo de um punhado de novos milhões em sua conta? Não consigo imaginar nomes. Mas e se o sujeito apostou e morreu? Pode ser, é uma possibilidade plausível. Para fins de efeito de crônica, imagino um velhinho aposentado que há anos faz a sua aposta e confere toda a semana os números que, se sorteados, solucionariam para sempre as agruras de sua vida. E quando finalmente a sorte lhe sussurra os números da mudança, ele morre de mal súbito dois dias antes do sorteio.
Enterrado em vala comum, só deus sabe onde é que meteu o bilhete. A vida real tem dessas coisas. Às vezes ela é pródiga em abortar sonhos.


 (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 25 de outubro de 2013)

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