A certa altura na tarde daquele domingo,
Mariana cansou de correr defronte às vitrines das lojas situadas naquele lado
do shopping e resolveu assentar-se em uma das cadeirinhas de plástico dispostas
por ali, do tamanho dela. Havia cinco ou seis mesinhas enfileiradas, cada qual
com seu jogo de quatro cadeirinhas de cores alternadas, e Mariana escolheu uma
verde para recostar o corpinho exausto de tanto gastar energias.
Sentou-se direitinho, cruzou as
mãozinhas e retribuiu largamente o sorriso que lhe endereçavam os pais sentados
poucos metros adiante, a uma das mesas da praça da alimentação, nas cadeiras
grandonas do tamanho deles. Depois de intercalar durante mais de meia hora
atividades como corridas aceleradas para tirar os pais da inércia, gritos
alegres inesperados para enchê-los de satisfação e distribuir beijinhos com as
mãos a todos os passantes para provar aprendia o que lhe era ensinado, agora
Mariana requeria alguns minutos de descanso, enquanto planejava o que fazer
assim que resolvesse saltar da cadeirinha, dali a pouco.
Mas sua atenção foi desviada
para a mesinha ao lado, na qual se colocava um garoto cerca de um ano mais
velho do que ela, que logo descobriu chamar-se Gael. O rapazote encaixou-se em
uma das cadeirinhas, uma azul, e nitidamente tentava chamar a atenção de
Mariana, apesar de quase derretendo de vergonha. Quando supôs que ninguém,
exceto ela, estava vendo, Gael ousou fazer um gesto com a mão para que Mariana
viesse sentar-se à sua mesa, o que ela compreendeu imediatamente e não hesitou
em ababdonar sua cadeira verde para ir se posicionar ao lado de Gael, em uma branca.
Gael observava-a de canto de olho
sem dizer nada, ao passo em que Mariana estendeu-lhe o bracinho esquerdo,
exibindo a pulseirinha que, com muito orgulho, mostrava a todos os que se
aproximavam dela desde manhã cedo, quando a mãe lhe colocara o adereço. Gael enrubesceu
e encolheu-se todo, enfiando o pescoço para dentro da gola da camisa, sem saber
como reagir agora que o convite para a aproximação fora surpreendentemente
aceito. Para se livrar da situação de maneira honrosa, tascou de repente um
beijo na testa da menina e saiu correndo ao encontro de seus próprios pais,
derrubando a cadeirinha em que se sentava e deixando Mariana com cara de susto,
sozinha, na mesa. Meia hora depois, ambos já haviam esquecido o episódio,
prontos para seguirem, cada um, palmilhando atentos os desafios propostos por suas
vidas em início de jornada.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 15 de novembro de 2013)
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