Mais do que o medo da violência
(que não é pequeno nos dias de hoje), mais do que o medo de sofrer algum
acidente no trânsito (pedestre, motorista ou usuário de transporte coletivo,
ninguém está imune), mais do que o medo de morrer (que é desnecessário, uma vez
que a morte integra o pacote da vida), o que eu temo mesmo, desde as
profundezas de meu eu, é o avanço do obscurantismo na sociedade. Isso sim, me
tira o sono, me arrepia o cavanhaque, me causa muito, mas muito medo.
O obscurantismo, conforme nos
ensinam os dicionários (aos quais recorri para melhor entender a questão e
aprimorar a expressão de meu pensamento), possui vários significados, todos
eles complementares. Entre eles, os seguintes: “Estado do que se encontra na
escuridão; estado de completa ignorância; oposição sistemática a todo o progresso
intelectual ou material; atitude ou política contrária à difusão e transmissão
de conhecimento, especialmente entre as massas”. O obscurantismo, portanto, é o
estado em que um indivíduo ou uma sociedade atinge quando decide abrir mão da
busca pelo conhecimento, que ilumina e liberta; da busca pela informação, que
educa e forma; da busca pela compreensão e pela tolerância, que socializa,
humaniza e civiliza. Fazer uma opção pessoal pela ignorância, pela incultura, é
o caminho mais seguro para se atingir o estado de obscurantismo, quando a alma
submerge nas trevas da incivilidade.
Dia desses, zapeando por um
canal local de televisão, deparei com um debate sobre a ditadura militar que
maculou a história de nosso país de 1964 até 1985. A História e o Jornalismo
possuem essa crucial tarefa de manterem acesas as chamas do debate, justamente
para proporcionar a reflexão sobre os erros do passado e colaborar para que
jamais se repitam. Mas qual meu horror quando vi uma jovem de cerca de vinte
anos de idade defender a ditadura militar (que ela não vivenciou e, pelo visto,
sequer estudou minimamente nos livros), dizendo que “havia sido boa”. O
argumento raso estava de acordo com a escuridão do pensamento. Mas é assustador
que pensem assim. Por definição, meus queridos, e também rasamente, para que se
entenda, não existe “ditadura boa”, seja ela de que coloração for. Pelo amor de
Deus, não me tirem o sono!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 18 de janeiro de 2014)
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