Confesso que já fui melhor nessa
coisa de elencar propósitos de Ano Novo. Houve tempos, especialmente em minha
adolescência, em que eu me recolhia para o quarto, em algum momento do dia 31
de dezembro, e me botava a refletir sobre meu comportamento ao longo do ano que
findava e o que eu esperava de mim no correr do ano que estava por vir. Feita a
reflexão, lançava ao papel a tradicional lista de decisões, repleta de tópicos
que dificilmente viriam a ser cumpridos.
Olhado em retrospecto, recordo
que, em tempos idos, já me propus a modificar comportamentos e traços de
personalidade dos quais não gostava; me dispus a ler mais; tentei me induzir a
ser mais tolerante e feliz; a diminuir o estresse com as pequenas coisas e
também com as grandes; a fazer determinada faxina; a me alimentar diferente; a
empreender exercícios físicos; a aprender determinadas tarefas; a deixar de
lado algumas coisas; a fazer mais isso e menos aquilo. Na maioria das vezes,
essas metas, quando atingidas, decorreram de processos naturais da vida e não
por uma autoimposição artificial feita a mim mesmo por meio de uma lista
ingênua e bem-intencionada de final/início de ano.
Nesse cruzamento de 2013 para
2014, surpreendi-me prosaico e desinspirado em minha lista de mudanças. Aliás,
não houve sequer lista, uma vez que elenquei apenas um propósito para o novo
ano que agora toma rumo: decidir se tiro ou não o bigode e o cavanhaque que
perfazem meu semblante há mais de uma década. Desde o início de dezembro que eu
venho, todas as manhãs, ao me olhar no espelho do banheiro ao despertar,
refletindo se devo ou não giletear esses fios que há tanto tempo se enfileiram
sobre meu lábio superior e se agrupam em torno de meu queixo. Depilar ou não
depilar? Eis a questão!
Decidi submeter a decisão a uma
enquete ouvindo o lado feminino da família. Minha esposa, que não me conhece
com a cara desnuda, torceu o nariz para a esquerda ao ouvir minha ideia,
achando-a de jerico. Minha mãe, que me conhece desde que era imberbe, torceu o
dela para a direita, fazendo coro à esposa. Parei por aí. Já tinha ouvido as
facções que têm poder de veto. Cavanhaque e bigode ficam, ao menos, ao longo de
2014. Vai que até o final do ano me surja algum propósito mais significativo a
levar em consideração.
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