Agosto ganhou fama de “mês do
desgosto” na cultura popular não apenas devido à rima fácil e de gosto
duvidoso, mas especialmente pelo fato de as pessoas imaginarem que aquele
período do ano é mais propício à concretização de tragédias. Claro que não há nada
de científico nisso, mas, mesmo assim, tem quem goste de se impressionar com o
poder misterioso das coincidências, tentando pinçar nelas significados
subliminares e recados sobrenaturais, o que faz nascerem mitos e crendices.
Digo isso porque fico aqui a
matutar sobre a estranha onda recente de acidentes envolvendo celebridades que
se botam a esquiar nas partes nevadas do mundo e acabam se dando mal, muito
mal. O multicampeão de Fórmula-1 alemão, Michael Schumacher, parece ter aberto
a temporada ainda ao findar de 2013, em dezembro passado. Continua internado em
estado crítico, após uma queda nos Alpes franceses. Poucos dias depois, veio à
tona a notícia de que a chanceler alemã, Angela Merkel, também havia, por
aqueles dias, fraturado a pélvis em um acidente esquiando na Suíça. Agora, foi
a vez da ginasta brasileira Laís Souza sofrer um trauma severo na coluna
cervical ao esquiar em Salt Lake City, nos Estados Unidos. Por causa disso, sua
participação nas Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro está desde já comprometida.
Não me atenho às coincidências
envolvendo a prática do esqui e as celebridades, afinal, acidentes em pistas de
esqui devem acontecer a toda hora, atingindo pessoas comuns e anônimas. O que me
intriga é o mistério da motivação que leva algumas pessoas a se arriscarem além
da conta, na busca às vezes impensada pela superação de limites pessoais em
nome de nem imagino o quê.
Nos três casos citados, a
informação é de que nenhum deles estava esquiando em alta velocidade e tampouco
realizando manobras arriscadas. Certo, tudo bem. No entanto, independentemente
da intimidade de cada um com aquele esporte, acabaram sendo vítimas de um risco
calculado. Precisavam disso? E o que as diferencia do cidadão comum que exagera
na velocidade na estrada, que dirige após ingerir bebida alcoólica, que
ultrapassa em local proibido? Por que precisamos constantemente testar limites?
Para mim, o sinal, se é que existe algum nisso tudo, é mais prosaico: o que tem
limite mesmo é a onipotência dos anjos da guarda.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 31 de janeiro de 2013)
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