Movido pela mais vil e inconfessável egolatria, decidi tomar uma atitude que vai me assentar definitivamente em um lugar de destaque na história daqueles que colaboraram para enriquecer a Língua Portuguesa e, por que não, o estudo dos (maus) costumes de nossa civilização. Para tanto, farei um ato aparentemente simples: vou cunhar (eu preferiria dizer “fundar”) um neologismo. Como todos sabem, “neologismo”, conforme o Aurélio, é “uma palavra ou expressão nova numa língua”. Eu estou, neste exato momento, fundando (e, portanto, me apropriando de todos os royalties) a expressão e a palavra “eucomiguismo”, e já trato de ir explicando.
O eucomiguismo (já está fundada, não precisa mais de aspas) é uma palavra que deriva do conceito de “eu comigo”, expressão usada para designar uma atitude decorrente de egocentrismo, de egoísmo, de individualismo exacerbado, cada vez mais comum neste nosso mundo civilizado. Toda a vez que uma pessoa pratica um ato por meio do qual pretende tirar vantagens para si própria, sem pensar nos demais que a cercam, ou mesmo, na maioria das vezes, até prejudicando os seus próximos, ela está exercendo o eucomiguismo, porque estará pensando única e exclusivamente nela mesma, agindo “eu comigo”, desconsiderando a existência dos demais, atropelando os direitos dos outros, desejando que todos se explodam etc.
É o eucomiguismo, por exemplo, que faz as pessoas circularem pelo centro da cidade em dias de chuva e, ao andarem pelas calçadas, optarem pelo lado de dentro com seus guarda-chuvas abertos, exatamente sob as marquises dos prédios, empurrando para o lado de fora, em plena chuva, todos os demais que, por azar, esqueceram seus aparelhos em casa. Ora, rezaria o bom-senso que quem está com guarda-chuva que vá para o lado da chuva, deixando as marquises a proteger as cabeças dos mais desprevenidos. Mas não, é cada um por si, mesmo.
Os exemplos seriam vários para ilustrar os casos de eucomiguismo que enfeiam nossa vida em sociedade. Cada um que faça a sua lista. E que procurem banir a necessidade de vigorar um neologismo como este que acabo de, infelizmente, precisar criar.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 21 de janeiro de 2011)
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