Houve uma época em minha vida em que estive repleto de certezas e razões. O período durou do final da adolescência até o início da idade adulta, fase em que descobri o engajamento político e passei a ver o mundo sob um determinado prisma ideológico, que enquadrava tudo dentro de sua própria lógica. Comigo estavam os que pensavam igual a mim, e contra mim estavam os que pensavam diferente. Bem assim, maniqueísta e fácil. Maniqueísta, fácil e, obviamente, obtuso e preconceituoso, que são o troco inevitável de quem decide adonar-se da razão. Para minha própria felicidade, demorei-me poucos anos nessa fase, e logo percebi que vivo melhor e mais feliz estando desprovido de certezas e de razões, e mais municiado da capacidade de maravilhar-me com o mundo, com as pessoas e com as formas inesgotáveis como elas expressam suas maneiras únicas de viver suas vidas.
A diversidade é a maior riqueza da humanidade, foi o que aprendi, no final das contas. E para poder apreciar a diversidade, é fundamental saber exercitar a tolerância. Mas é a ausência dela que faz o mundo ainda não ser um bom lugar para se viver. É na intolerância que reside a fonte de quase a totalidade dos males que assombram o planeta.
É a intolerância ao diferente que move o bullying nas escolas e forja desequilibrados que vão cobrar a fatura anos mais tarde na forma de chacinas. É a intolerância ao diferente que move piadinhas racistas que não doem na alma de quem as faz mas que dilaceram o espírito de quem delas é alvo. É a intolerância que inspira uma multidão de torcedores a oprimir com xingamentos o atleta homossexual que está na quadra disputando campeonato. Foi a intolerância levada ao extremo que consolidou o nazismo e o transformou em ordem vigente na culta Alemanha durante alguns anos.
Não podemos ser tolerantes com a intolerância. Se é na marra que o ser humano evolui, então que se avolumem os processos contra os atos de intolerância, movidos por vítimas corajosas. É preciso transformar o mundo em um lugar melhor para todos, nem que seja aos trancos. Afinal, para extirpar o nazismo, foi necessário fazer terra arrasada da Alemanha. A História sempre tem muito a ensinar.
(Publicado no jornal Pioneiro em 22 de abril de 2011)
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