Os catastrofistas de plantão provavelmente entraram em pânico no início de março deste ano, ao depararem com as notícias sobre o pedido de concordata feito pela cadeia de livrarias norte-americana Borders, com o consequente fechamento de 200 lojas (das 650 que possui) em todo o território daquele país. “É o fim dos tempos da literatura”, exclamaram alguns; “é a prova de que a morte dos livros não tem mais volta”, gemeram outros; “eu disse, eu disse, eu disse”, repetiram os pessimistas. Mas isso é o que dá restringir-se a ler apenas os títulos das notícias. É igual a julgar conhecer os meandros da Montanha Mágica de Thomas Mann só devido ao título, e supor que se trata de uma saga juvenil em que um mago poderoso treina jovens adolescentes no topo de uma colina. As coisas não são bem assim, como bem sabem quem leu A Montanha Mágica e quem analisou com mais cuidado os meandros das notícias.
É verdade que o fechamento súbito de 200 pontos de venda de livros de uma rede de livrarias representa um baque e um enxugamento claro no setor, afetando o cotidiano de leitores nos Estados Unidos. Mas não representa, por si só, o início de um efeito dominó que resulte, em tempo recorde, no sumiço das livrarias físicas em favor das virtuais e no banimento ao limbo dos livros impressos e palpáveis. Conforme mostram as notícias sobre a concordata da Borders, o problema foi consequência direta de má gestão financeira (mal que acomete empresas de todos os setores da economia, sem distinções) e imobilidade estratégica para se posicionar frente às novas demandas do mundo moderno. Ao frigir dos ovos, a Borders acusava dívidas de U$ 1,29 bilhão contra um patrimônio de U$ 1,27 bilhão. Devia mais do que possuía, igual aos brasileiros que fazem financiamentos para comprar camionetes de luxo e apartamentos duplex, mas não têm dinheiro na poupança nem para comprar um cotonete. Entenderam? Mesmo assim, a rede segue ainda com 450 lojas nos Estados Unidos, o que não é exatamente “pouca coisa”.
Mas bastou para tirar o sono de quem pensa que os livros vão acabar. Calma. As coisas não são bem assim. Para equilibrar a balança entre más e boas notícias, e devolver a paz no sono dos amantes dos livros, vale dar atenção à notícia divulgada também em março pela Associação Nacional de Livrarias (ANL), demonstrando que o mercado livreiro cresceu 9,6% no Brasil em 2010. Que tal essa? E sabe o que mais? A pesquisa, realizada anualmente no setor livreiro brasileiro pela ANL, demonstra também que 78,3% das livrarias no país pretendem fazer investimentos ao longo de 2011, que se concretizam na forma de capacitação profissional de seus funcionários, ampliações ou reformas nas lojas, mais tecnologia e abertura de novos pontos de venda. Bom, não? Isso sem falar no setor editorial brasileiro que segue firme e forte, com lançamentos de livros inundando as prateleiras a cada semana e editoras novas surgindo em todo o território nacional.
Se o livro vai desaparecer, aviso aos navegantes que não é para tão logo. Por enquanto, só me tiram mesmo o sono são os livros que desaparecem de minha estante quando os empresto e não me devolvem. Mas isso não é de hoje...
(Texto publicado na seção "Planeta Livro" da revista Acontece Sul, de Caxias do Sul, edição de abril de 2011)
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