Súbito, sem prévio aviso, em um jorro
curto e certeiro, o vômito do afilhado inunda parte da minha camisa e das
calças, impregnando a atmosfera com um aroma oriundo da mescla entre leite
materno, suco gástrico e restolhos de papa com feijão e beterrabas, já que ele,
aos sete meses de idade, adora beterrabas, cioso que já é de suas preferências
gastronômicas. “Acho que ele vomitou”, anuncio, desconcertado, para os adultos
que nos circundam, na esperança de que alguém com maior prática (especificamente
o pai ou a mãe de João Vitor) adote os procedimentos de praxe nessas ocasiões
que, para mim, ainda são novidade.
“Aunhamm ngaaa”, me confirma o
pequeno, sorridente, enquanto é retirado de meu colo sob os risos gerais dos
demais (todos eles secos), para ser limpo com o paninho cheiroso azul que fico
cobiçando naquele instante, porém, a mim, adulto, resta dirigir-me ao banheiro
e me limpar com papel higiênico, o que remedia a situação apenas parcialmente, já que, ao retornar ao meu
lugar, mergulho o traseiro na sobra do vômito que havia também encharcado o
assento do sofá.
Casa com nenê novinho é assim mesmo,
repleta de situações inesperadas, com as quais os pais novatos vão rapidamente
se habituando e os dindos inexperientes vão ampliando as cinturas a fim de
terem o jogo necessário para corresponder às demandas que o ato de apadrinhar
exige, como aprender a não chacoalhar demais a criança no colo logo após ela
ter se alimentado, por mais que a achemos encantadoramente linda e fofa por
trás daqueles sorrisos largos e generosos aliados aos bracinhos estendidos que
requerem colo, frente aos quais não conseguimos resistir, tampouco manter a
fleuma.
“Putz, sentei no vômito”, foi minha
segunda observação da tarde, e lá voltei eu ao banheiro, agora
irremediavelmente cheirando a leite. Até então, andava faltando somente eu para
ser premiado com os regurgitos-relâmpago do afilhado, que, ao chegar a minha
vez, foi generoso na dose que me reservava. Apadrinhar também é isso: ser
vomitado, achar graça e não ver a hora de chacoalhar o afilhado no colo de
novo. Quem disse que padrinho velho aprende alguma coisa?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 21 de dezembro de 2012)
2 comentários:
Cinco afilhados e ilesa!
(Tudo bem que uma delas de crisma, outra de primeira comunhão)
Pegar afilhados no colo nunca foi uma característica desenvolvida por esta madrinha.
* confesso que ri da sua desgraça
Ja eu estou acumulando milhas de colo sendo saracoteado pelo pequeno... e curtindo....
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