Uvanova é uma pequena e simpática
cidadezinha de colonização italiana encravada no alto da Serra Gaúcha na divisa
entre Tapariu e o Rio das Antas, conhecida por seu povo amigável e pelo sagu de
polenta cuja receita secreta as nonas não revelam nem no confessionário, apesar
de muitos padres já as terem tentado a fazê-lo, infrutiferamente. Os
uvanovenses são apaixonados por futebol e, agora em dezembro, coincidentemente,
os dois clubes citadinos dedicados à prática do esporte bretão celebram 30 anos
de chutes, caneladas, raros gols, rivalidade acalorada e muita alegria.
Fundados no mesmo dia 3 de dezembro de 1982,
tanto o Esporte Clube Que Lance quanto a Associação Atlética Canoa Furada
dividem as emoções esportivas de toda a comunidade. Este ano, o prefeito
Parreirino Della Merlota resolveu realizar um evento cuja intenção era promover
a união entre os correligionários, atletas e diretores dos dois times, oferecendo-lhes
um sopão de anholine grátis no domingo passado, no salão de festas da igreja.
Aproveitando a ocasião histórica,
o secretário municipal de Cultura, Desportos, Educação, Agricultura e
Saneamento Básico sugeriu que fossem abertas as duas cápsulas do tempo (urnas
contendo material da época e documentos a serem legadas para as gerações
vindouras) que haviam sido enterradas três décadas atrás em cada clube, junto
com a pedra fundamental de cada estádio (que nunca saíram da planta). Abertas
as urnas, a surpresa e a decepção: em uma delas, um disco em vinil contendo o
hino do clube; uma fita cassete trazendo declarações dos dirigentes da época e
dos jogadores e uma fita VHS com imagens e depoimentos relevantes. Nada foi aproveitado,
pois ninguém em Uvanova encontrou um toca-discos para escutar o vinil, nem um
gravador para rodar a fita e tampouco um videocassete para exibir o VHS. Já o
outro clube, cuja cápsula do tempo trazia um livro narrando a história de sua
criação, um jornal com entrevistas com os dirigentes e jogadores e um álbum de
fotografias analógicas reveladas em papel, teve sua história revivida e apreciada
por todos de forma imediata.
Ninguém mais em Uvanova discute a
questão do fim do livro ou dos veículos impressos.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 14 de dezembro de 2012)
2 comentários:
Muito bom!
Este é mesmo um problema moderno, se conseguiremos acessar todos os nossos guardados digitais daqui a 15 anos.
Como os apartamentos estão cada vez menores e com menos espaço para guardados em papel, creio que daqui a pouco não teremos memória alguma...
Verdade... mas sigo tendo dificuldade em me livrar de minha memorabilia de impressos, e vou acumulando....
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