Qualquer um que precise gastar
sola de sapato pelas calçadas da cidade por motivos profissionais ou quaisquer
que sejam, nesses inclementes dias veranis, sabe muito bem que o sol não anda
para peixe. Estranhou a comparação? Pois experimente deixar um peixe ao sol
sobre a calçada em plena Sinimbu, para ver o que acontece.
Estamos a vivenciar aqui, nessa
nossa (até então) sempre fresquinha Serra, calorões dignos de concorrer com o
clima da mormacenta Porto Alegre, da abafada Santa Maria e de outras quenturas
mais tradicionais do Estado. Pingando sob a concorrida sombra das marquises das
lojas na Avenida Júlio de Castilhos, fico a imaginar se a neve com que o mês de
agosto do ano passado nos brindou não teria sido uma alucinação coletiva. Se
visto uma camisa vermelha para perambular rumo a uma reunião, me sinto como se
fosse um picolé de picanha a verter água pelo centro da cidade. Se me enfronho
em uma camisa preta, tenho a sensação de ter me travestido em um carvão de
churrasco ambulante.
Via de regra, ao sair de casa
apressado catando óculos escuros, carteira, chaves, pasta, caneta e moedas,
acabo esquecendo de lambuzar braços, pescoço e rosto com o protetor solar, o
que me rende certeiros queimões do sol e justas xingadas da esposa (ambos me
deixam corado). Nessas ocasiões, derretendo impunemente e a olhos vistos em
público, fico a me perguntar por que diabos não trouxe junto o guarda-chuva,
para me proteger da insolação?
Por que cargas d´água a
população contemporânea abandonou o uso das sombrinhas nos dias de sol de
camelo, uma vez que o apetrecho já foi tão usual e útil em décadas passadas?
Afinal de contas, o nome do artefato revela seu uso: sombrinha. Ou seja, foi
criada exatamente com o intuito de proporcionar uma sombra particular e
ambulante, que acompanha a cabeça do proprietário por onde quer que ele
perambule, sem ter de ficar disputando centímetros de alívio sob as marquises
ou as árvores, essas cada vez mais escassas em nossos centros urbanos.
Faço aqui o lançamento de um
libelo (sempre quis escrever “libelo”) a favor da volta indiscriminada das
sombrinhas ao nosso convívio urbano. E que sejam usadas indiscriminadamente por
homens e mulheres que não desejam ter seus miolos fritando a qualquer
circuladinha de nada pela Praça Dante. Quem me vir, verá...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 3 de fevereiro de 2014)
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