No meu tempo (aiaiai... quando o cara começa oito entre dez textos com “no meu tempo”, é mesmo um sinal dos tempos)... Bom, mas, quando eu era criança, lá nos idos dos anos 60 e 70, não existia esse negócio de bullying. Existia, sim, era a simples e clara opressão dos meninos mais fortes e malvados sobre os mais tímidos e raquíticos, e das meninas mais ferinas e desenvoltas sobre as meiguinhas e retraídas. Isso daí que agora recebeu denominação estrangeira para tentar glamourizar aquilo que não tem glamour nenhum não foi inventado hoje, e move – infelizmente – as relações de poder entre os seres humanos desde que desabamos dos galhos das árvores e começamos a tentar nos diferenciar dos macacos (cada vez mais ingrata tarefa, aliás).
Independentemente de como se denomine o ato, com expressão em língua pátria ou importada, sua essência não muda, e não passa da simples exteriorização de uma das características mais nocivas que existem latentes dentro da alma humana: a perversidade. Oprimir e humilhar por qualquer meio que seja (e, muitas vezes, a partir de todos os meios disponíveis) outra pessoa é uma tendência que nasce junto com a condição humana, bem como diversos outros traços que remontam ao primitivismo de nossas almas. Domar essas características, superá-las e transformá-las é o desafio que se impõe a todo o ser humano que nasce em sociedade e pretende viver nela de maneira construtiva e civilizada. Trata-se de uma meta a ser perseguida diuturnamente por cada um de nós, do início ao fim de nossas jornadas.
O problema surge quando essas noções básicas e fundamentais de civilidade não são apresentadas cedo às criaturas humanas. E, quanto mais tarde o forem, mais tarde demais será para que nossos semelhantes possam superar suas características incivilizadas e domar os selvagens que teimam em vir à tona e preponderar na (de)formação de seus caráteres. Se não queremos mais o bullying nas escolas ou onde quer que seja, precisamos nos preocupar mais com a formação de nossos filhos, primeiramente, em nossas próprias casas. Com os nossos próprios exemplos. A questão é quando nos olhamos no espelho e nos deparamos, nós mesmos, com o reflexo dos macacos que teimamos em continuar sendo...
(Crônica publicada no jornal Informante, de Farroupilha, em 1/10/2010)
2 comentários:
Baita texto. Estamos nessa mania de dar um nome novo pra coisas que existem há tempos mas que só agora são vistas em amplas proporções. O bullying é só mais um exemplo. É algo que existe desde sempre, rivalidade natural do homem, cuja solução é, como tu disse, só uma: a educação dentro de casa. Se todos resolverem tais questões em casa, certamente logo serão extintas fora do "lar, doce lar".
Isso aí ana. O mal é atributo humano desde sempre, e dificilmente surge algo de "novo" nesse quesito... Grato pelo comentário.
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