Dia desses fui acometido por um “momento Rubem Barrichelo” e fiquei parado, imóvel, vendo tudo passar por mim e pensando “aonde é que isso tudo vai parar”? O que me causou tamanho estranhamento foi uma reportagem que vi num noticioso televisivo sobre algo que até então eu sequer supunha poder existir: os chamados “entorpecentes virtuais”. Fiquei estupefato (não confundir com estupefaciado).
Pois a coisa funciona assim, e é de deixar os cabelos em pé: inventaram “drogas” virtuais que simulam os efeitos de drogas, entorpecentes e remédios reais, por meio de ondas sonoras especialmente criadas para recriar no cérebro as condições neurológicas que produzem estes efeitos. Ou seja: você compra uma “dose” de bebida alcoólica virtual (só para ficar num exemplo mais levinho), baixa o programinha, coloca fones de ouvidos e fica escutando os sons estranhos durante um período que varia de acordo com o produto adquirido (pode ir de 15 minutos a até uma hora). Depois, é tirar os fones e “curtir” o efeito. Doideira, não?
Preocupante, na verdade. Primeiro, pelo conceito em si, que é o de disponibilizar estupefacientes pela internet a quem quer que seja e que esteja disposto a pagar pelo “produto”. Depois, pelas consequências do negócio, ainda totalmente desconhecidas e imprevisíveis. E vai que os tais sons causem danos ao cérebro? Seria lógico, afinal, é exatamente isso o que causam todos os tipos de drogas existentes no mundo real. Quem vai controlar? Quem vai coibir? Quem vai fiscalizar e combater? Preocupante... bem preocupante.
Como o troço ainda é muito recente, existem controvérsias a respeito da real eficácia das tais i-doses. Há quem diga que tudo não passa de placebos, ou seja, são sons inócuos e que só fazem efeito devido à auto-sugestão de quem se dispõe a absorver a i-dose e embarcar na viagem. Tipo igual à hipnose: só fica hipnotizado quem se dispõe a ficar. Mesmo assim, são sons que mexem com os neurônios, e pode-se, sim, estar brincando com coisa séria. Só o futuro dirá. E mais uma coisa para pais e educadores em geral ficarem atentos e vigilantes no vasto mundo da internet, onde todos navegam a seu bel-prazer.
Eu, de minha parte, agradeço e passo longe. Prefiro continuar com minha cervejinha de final de semana e com o chá de boldo, cada vez mais em alta aqui em casa...
(Crônica publicada no jornal Informante, de Farroupilha, em 29/10/2010)
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