Homens não se vestem. Homens se ensacam. Essa é a teoria sustentada por minha esposa sempre que desço as escadas pela manhã, vestido para o trabalho. “Não, não, não, não, não”, enfileira ela, de segunda a sexta, ao me ver da mesa do café. “Pode voltar. Essa calça você usou ontem e essa camisa não combina”, sentencia. “O que há com vocês, homens, que não conseguem ver o óbvio? Que isso não combina com aquilo e que não é preciso usar uma calça até ela sair andando sozinha pela casa e que o amplo espectro das cores exige um pouco de bom senso na hora de combinar uma camisa com uma calça e com uma meia” e muito além disso eu não consigo mais discernir porque já subi de volta e tirei tudo e rapidamente troco a camisa verde pela bege e a calça (pomba, mas só havia usado ela ontem) ainda limpinha por outra dobradinha e passadinha que eu estava imaginando poupar para o domingo e desço de novo para o tão esperado olhar de aprovação que, para minha surpresa, ainda não surge.
“Ué! Não era isso?”, indago, desnorteado, plantado a oceanos de distância da seara dos metrossexuais (desconfio de que estou mais para centimetrossexual mesmo).
“Sim, mas e esse cabelo? Passa um gel, penteia para cá, joga para lá, arruma essa gola e puxa um pouco para fora a camisa das calças para disfarçar a barriga senão fica parecendo um boneco de plástico todo espichado e vem cá que eu te ajeito”, é o que, em síntese, ela responde, já distribuindo por mim mãos e dedos serelepes que meus olhos sequer acompanham. É uma polva, ela, nesses momentos. Seus tentáculos em ação têm a sobrenatural capacidade de me fazer apresentável à sociedade em poucos minutos, transformando-me em um outro eu, que me ponho a transportar junto com a pasta rumo a meus afazeres.
“Pô, meu, tu tá na estica hoje, hein?”, exclama o colega, quando adentro a sala da reunião.
A tentação é a de puxar um ar blasé e responder algo genérico como “você acha? Apenas vesti rapidamente aquilo que estava mais à mão”, mas não ouso fazer desfeita e rendo as devidas loas à minha “personal-tudo”. “Obra da loirinha”, respondo, percebendo mais uma vez o valor de receber um belo xingão de amor.
“Ué! Não era isso?”, indago, desnorteado, plantado a oceanos de distância da seara dos metrossexuais (desconfio de que estou mais para centimetrossexual mesmo).
“Sim, mas e esse cabelo? Passa um gel, penteia para cá, joga para lá, arruma essa gola e puxa um pouco para fora a camisa das calças para disfarçar a barriga senão fica parecendo um boneco de plástico todo espichado e vem cá que eu te ajeito”, é o que, em síntese, ela responde, já distribuindo por mim mãos e dedos serelepes que meus olhos sequer acompanham. É uma polva, ela, nesses momentos. Seus tentáculos em ação têm a sobrenatural capacidade de me fazer apresentável à sociedade em poucos minutos, transformando-me em um outro eu, que me ponho a transportar junto com a pasta rumo a meus afazeres.
“Pô, meu, tu tá na estica hoje, hein?”, exclama o colega, quando adentro a sala da reunião.
A tentação é a de puxar um ar blasé e responder algo genérico como “você acha? Apenas vesti rapidamente aquilo que estava mais à mão”, mas não ouso fazer desfeita e rendo as devidas loas à minha “personal-tudo”. “Obra da loirinha”, respondo, percebendo mais uma vez o valor de receber um belo xingão de amor.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 18/02/2011)
Um comentário:
:)
Adorei o texto!
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