Ainda hoje é possível ouvir, em certos círculos literários, frases preconceituosas que insistem em classificar o gênero policial como “subliteratura”, seja lá como for que compreendam o termo. Na verdade, quem profere a sentença está apenas tentando desqualificar todo um universo de obras reunidas sob uma temática comum, reduzindo-as todas à baixa qualidade encontrada em algumas delas. Ora, má literatura é praticada despudoradamente em todos os gêneros literários, da poesia ao romance, e nem por isso os demais gêneros sofrem ataque reducionista e delimitante de forma tão sistemática.
Nomes consagrados pelas eras já transitaram pelo estilo, a começar por Edgar Allan Poe, a quem, inclusive, atribui-se a criação do gênero em literatura, tendo instituído seus pilares fundamentais. Arthur Conan Doyle, Agatha Christie, Luis Fernando Verissimo e mesmo Umberto Eco, Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares são nomes que necessariamente são salpicados pela visão preconceituosa sempre que ela é evocada, uma vez que todos esses deixaram suas assinaturas pelo gênero, eventual ou sistematicamente. Perigoso, pois, apostar nas generalizações.
E por que, afinal de contas, as sessões de apedrejamento são invariavelmente direcionadas tão somente ao gênero policial, livrando do estigma tantos outros que bem poderiam se credenciar como alvos para o mesmo preconceito? Ora, se vamos ser preconceituosos, que o sejamos de fato, empregando no processo toda a carga de insustentabilidade racional e lógica que a adoção de um preconceito requer. Sejamos democraticamente preconceituosos, portanto. Dentro do cesto da tal “subliteratura”, não deixemos sozinho o gênero policial, e sejamos generosos, acomodando ali, por que não, também a ficção-científica (e abram espaço para H.G. Wells, Jules Verne, George Orwell e Aldous Huxley, uma vez que Adolfo Bioy Casares e Edgar Allan Poe já estão lá, mas também neste gênero – ou subgênero, como queiram – se habilitariam) e os romances de aventuras (e acolham Johnathan Swift, Miguel de Cervantes, Robert Louis Stevenson) e os de horror (bem-vindos agora Bram Stoker, Mary Shelley, Guy de Maupassant...).
Subliteratura, minha gente, nada mais é do que literatura ruim, espécime abundante e pouco exigente, cujo habitat são as folhas impressas e editadas dentro do universo de todo e qualquer campo literário. O gênero policial não detém a primazia nem o privilégio absoluto de abrigá-la. Sugiro, para os mais contundentes, evitarem inclusive cair na tentação de levar a cabo a proposta de investigação que faço, sob pena de terem realmente de rever seus preconceitos. Aposto, se fosse possível concretizar tal aferição, que o percentual de livros ruins (subliteratura em essência, portanto) existentes dentro do gênero romance é infinitamente maior, em proporção, do que aquele que habita o gênero policial. O mesmo, aliás, poderia ser dito em relação à poesia. Se eu fosse você, não pagaria para ver.
(Texto publicado na seção "Planeta Livro", da revista Acontece, de Caxias do Sul, edição de fevereiro de 2011)
Nomes consagrados pelas eras já transitaram pelo estilo, a começar por Edgar Allan Poe, a quem, inclusive, atribui-se a criação do gênero em literatura, tendo instituído seus pilares fundamentais. Arthur Conan Doyle, Agatha Christie, Luis Fernando Verissimo e mesmo Umberto Eco, Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares são nomes que necessariamente são salpicados pela visão preconceituosa sempre que ela é evocada, uma vez que todos esses deixaram suas assinaturas pelo gênero, eventual ou sistematicamente. Perigoso, pois, apostar nas generalizações.
E por que, afinal de contas, as sessões de apedrejamento são invariavelmente direcionadas tão somente ao gênero policial, livrando do estigma tantos outros que bem poderiam se credenciar como alvos para o mesmo preconceito? Ora, se vamos ser preconceituosos, que o sejamos de fato, empregando no processo toda a carga de insustentabilidade racional e lógica que a adoção de um preconceito requer. Sejamos democraticamente preconceituosos, portanto. Dentro do cesto da tal “subliteratura”, não deixemos sozinho o gênero policial, e sejamos generosos, acomodando ali, por que não, também a ficção-científica (e abram espaço para H.G. Wells, Jules Verne, George Orwell e Aldous Huxley, uma vez que Adolfo Bioy Casares e Edgar Allan Poe já estão lá, mas também neste gênero – ou subgênero, como queiram – se habilitariam) e os romances de aventuras (e acolham Johnathan Swift, Miguel de Cervantes, Robert Louis Stevenson) e os de horror (bem-vindos agora Bram Stoker, Mary Shelley, Guy de Maupassant...).
Subliteratura, minha gente, nada mais é do que literatura ruim, espécime abundante e pouco exigente, cujo habitat são as folhas impressas e editadas dentro do universo de todo e qualquer campo literário. O gênero policial não detém a primazia nem o privilégio absoluto de abrigá-la. Sugiro, para os mais contundentes, evitarem inclusive cair na tentação de levar a cabo a proposta de investigação que faço, sob pena de terem realmente de rever seus preconceitos. Aposto, se fosse possível concretizar tal aferição, que o percentual de livros ruins (subliteratura em essência, portanto) existentes dentro do gênero romance é infinitamente maior, em proporção, do que aquele que habita o gênero policial. O mesmo, aliás, poderia ser dito em relação à poesia. Se eu fosse você, não pagaria para ver.
(Texto publicado na seção "Planeta Livro", da revista Acontece, de Caxias do Sul, edição de fevereiro de 2011)
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