Quem ainda é ou já foi tímido
vai entender do que eu estou falando. Na infância e na adolescência, eu rezava
para que meu aniversário caísse em um sábado ou domingo (não podia sonhar com a
remota coincidência de cair em um feriado, por não haver feriados em julho).
Isso porque, nos demais dias da semana, havia aula e toda a turma voltaria os
olhos a mim para entoar em uníssono o “parabéns a você”, no caso, a mim, que ao
longo desses intermináveis 40 ou 50 segundos de duração da cantoria não sabia o
que fazer com a cara de bobo que se agarrava em meu rosto, com o vermelhidão
que me acamaronava a pele do pescoço à raiz dos cabelos (passando pelas orelhas)
e com as mãos que parecem triplicar de número nessas horas e disputam espaço
nos bolsos da calça ou nos pontos do cinto nos quais os polegares podem ser
desconfortavelmente enganchados. Era uma tortura sem fim.
Mais tarde, a gente cresce, mas,
no caso dos tímidos, a timidez parece crescer junto e poucas coisas mudam.
Passamos a ter de apresentar trabalhos lá na frente, na universidade e, depois
de formados, retornamos às salas de aula para dar palestras sobre a profissão
ou, nesses dias de hoje em que a comunicação é tudo, somos convidados a falar
em público nas mais variadas ocasiões, quando os olhares e as atenções se
voltam todos para um único ponto de convergência: você, com suas mãos em
excesso, suas faces ruborizadas, o suor frio escorrendo pela testa, os pés que
tropicam em cadeiras e velhinhas sempre dispostas em lugares inesperados.
Segue sendo uma tortura. Porém,
com o passar do tempo e o colecionar dos fios brancos, aprendi algumas técnicas
para amenizar o problema e amaciar a cara de bobo. Nos aniversários nos quais
os parabéns são remetidos a mim, passei a cantar junto, em alto e bom som,
aliado à potência de meu incorrigível desafino. Sou uma tragédia cantando e
isso ajuda a inibir o bis. Nas palestras e bate-papos em público, bato palmas
junto ao final, como a agradecer de imediato os aplausos que gentilmente estão
dirigindo a mim. Não ajuda a perder a timidez, mas a cara de besta consegue
esboçar um sorriso e se esconder sob um tênue disfarce. Ajuda a seguir em
frente.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 19 de abril de 2013)
Um comentário:
:)
Gostei da coluna. Por que será?
Bjs
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