O despertar de minha mente
curiosa pautou parte de minha adolescência com o aprofundar de desejos
fantasiosos que, caso concretizados, tornariam o mundo um lugar bem mais
divertido para se viver. Naquelas longínquas tardes pré-internet, vividas na
Rua dos Viajantes em Ijuí, eu acreditava, ou melhor, sonhava, ou melhor ainda,
desejava que fossem reais algumas criaturas esdrúxulas e certos poderes paranormais
a respeito dos quais devorava artigos publicados na revista “Planeta”, então
editada pelo escritor Ignácio de Loyola Brandão e tendo como colaborador um Paulo
Coelho antes de descobrir a fórmula mágica para vender livros aos milhões.
Eu queria, e como queria, que o
Monstro do Lago Ness fosse logo fotografado, para que os céticos mordessem suas
línguas. Desejava também que o Pé Grande, ou o Yeti, fossem capturados em
alguma armadilha para ursos no Canadá ou nos Estados Unidos para serem exibidos
na televisão, reportagem que eu aguardaria ansioso no Fantástico domingo à
noite, para pautar os comentários na hora do recreio na escola segunda-feira,
comendo um pastel e bebendo uma Minuaninho Limão. Treinava meus dons mentais
tentando fazer uma viagem astral fora do corpo até a casa ao lado para ver a
filha da vizinha saindo do banho, o que nunca consegui, provavelmente devido à baixeza
de minha motivação. Procurava enviar mensagens telepáticas ao meu coleguinha
estudioso durante a sabatina de matemática a fim de obter dele, via ondas
cerebrais, a resposta para os problemas envolvendo Bháskara. Aguardava por um
contato imediato de terceiro grau com seres interplanetários para me explicarem
a origem do universo e da vida, bem como desvendarem a extinção dos dinossauros
e o motivo de Sandra não dar bola para mim.
Depois cresci e essas esperanças
ingênuas e juvenis foram sendo substituídas por crenças mais terrenas e pés no
chão, como o desejo de ver as pessoas sendo cidadãs, sabendo viver em sociedade,
considerando o próximo, exercitando a solidariedade, trabalhando honestamente e
respeitando as leis escritas e também as sugeridas pelo bom senso. Que burro,
eu. Troquei fantasias plausíveis pela mais absoluta irrealidade.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 26 de abril de 2013)
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