Vivita Cartier, a Noiva do Sol, que fez poesia e morreu em Criúva
A passagem ininterrupta do tempo
é a maior inimiga da manutenção do frescor da memória. A fim de conservar vivas
as lembranças que nos são significativas, não podemos contar apenas com a saúde
dos nossos neurônios e precisamos lançar mão à imensa gama de recursos que
servem de gatilhos para o recordar e de instrumentos para a manutenção e o
resguardo da história. As fotografias, os livros, os jornais, os relatos, as
entrevistas, os depoimentos, os documentários, os filmes, os eventos e as
homenagens são alguns desses expedientes, fundamentais para que a vida humana e
cada existência em particular não se transformem em um eterno recomeçar do zero
a cada novo dia, mas se configurem em um processo contínuo de construção da
história.
É nesse sentido que merece
aplauso a iniciativa da Biblioteca Pública Municipal Dr. Demetrio Niederauer
que, hoje à noite, a partir das 20h, realiza a terceira edição do projeto
“Noite na Biblioteca”, tendo como tema os 120 anos de nascimento da poetisa
Vivita Cartier, porto-alegrense nascida em 12 de abril de 1893 que morreu
tuberculosa aos 26 anos de idade em 21 de março de 1919, em Criúva, onde há
anos se estabelecera procurando nos ares da Serra uma esperança de cura. Enquanto
buscava nos recursos da medicina de seu tempo o alento para os males físicos
que a afligiam, Vivita produzia poesia a fim de amenizar as dores que lhe
corroíam também a alma, entre elas, uma paixão não correspondida e a distância
da efervescência cultural da Capital, da qual fizera parte ativamente nos anos
anteriores ao agravamento de sua doença.
Produziu pouco e morreu jovem.
Mesmo assim, os recursos da manutenção de sua memória e de sua contribuição
para a literatura vêm sendo colocados em uso ao longo desses quase cem anos de
sua morte, a ponto de Vivita amadrinhar cadeiras em duas academias literárias:
a de Caxias do Sul e a Feminina do Rio Grande do Sul. O evento de hoje à noite
é mais um importante lampejo para garantir que jamais se extinga a luz poética
que sua vida e sua poesia trouxeram de forma fugaz, bela e sensível ao mundo,
enquanto nele permaneceu. A memória de sua vida e de sua obra, ao que tudo
indica, seguirá permanecendo.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 12 de abril de 2013)
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