sexta-feira, 12 de abril de 2013

Tempo, memória e poesia


Vivita Cartier, a Noiva do Sol, que fez poesia e morreu em Criúva

A passagem ininterrupta do tempo é a maior inimiga da manutenção do frescor da memória. A fim de conservar vivas as lembranças que nos são significativas, não podemos contar apenas com a saúde dos nossos neurônios e precisamos lançar mão à imensa gama de recursos que servem de gatilhos para o recordar e de instrumentos para a manutenção e o resguardo da história. As fotografias, os livros, os jornais, os relatos, as entrevistas, os depoimentos, os documentários, os filmes, os eventos e as homenagens são alguns desses expedientes, fundamentais para que a vida humana e cada existência em particular não se transformem em um eterno recomeçar do zero a cada novo dia, mas se configurem em um processo contínuo de construção da história.
É nesse sentido que merece aplauso a iniciativa da Biblioteca Pública Municipal Dr. Demetrio Niederauer que, hoje à noite, a partir das 20h, realiza a terceira edição do projeto “Noite na Biblioteca”, tendo como tema os 120 anos de nascimento da poetisa Vivita Cartier, porto-alegrense nascida em 12 de abril de 1893 que morreu tuberculosa aos 26 anos de idade em 21 de março de 1919, em Criúva, onde há anos se estabelecera procurando nos ares da Serra uma esperança de cura. Enquanto buscava nos recursos da medicina de seu tempo o alento para os males físicos que a afligiam, Vivita produzia poesia a fim de amenizar as dores que lhe corroíam também a alma, entre elas, uma paixão não correspondida e a distância da efervescência cultural da Capital, da qual fizera parte ativamente nos anos anteriores ao agravamento de sua doença.
Produziu pouco e morreu jovem. Mesmo assim, os recursos da manutenção de sua memória e de sua contribuição para a literatura vêm sendo colocados em uso ao longo desses quase cem anos de sua morte, a ponto de Vivita amadrinhar cadeiras em duas academias literárias: a de Caxias do Sul e a Feminina do Rio Grande do Sul. O evento de hoje à noite é mais um importante lampejo para garantir que jamais se extinga a luz poética que sua vida e sua poesia trouxeram de forma fugaz, bela e sensível ao mundo, enquanto nele permaneceu. A memória de sua vida e de sua obra, ao que tudo indica, seguirá permanecendo.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 12 de abril de 2013)

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