Vou fazer uma profecia. E, como
todo bom Nostradamus que se preze, tomarei o cuidado de datar o cumprimento de
minhas previsões em um futuro longínquo o suficiente para garantir que eu não
esteja mais por aí quando do advento das datas. Em a previsão se cumprindo,
terei a infelicidade de não poder colher em vida os louros pelo acerto, mas
confio na honestidade da História, que saberá me incensar com a devida justiça
devido ao feito. Em não se cumprindo, me esquivarei espertamente do
constrangimento de ter de inventar explicações que limpem minha barra, e que se
ralem meus futuros detratores.
Então, vamos lá, ei-la: a
internet não será responsável pelo desaparecimento dos livros, das revistas e
dos jornais impressos. Ao menos, não nos próximos 100 anos.
Pronto. O que estou afirmando é
que nossos netos e bisnetos, em 2113, ainda estarão em contato, no seu
cotidiano pessoal e profissional, com esses centenários objetos de leitura que
tanto amamos, impressos em papel, dobráveis, inflamáveis, rasgáveis, riscáveis,
molháveis, sujáveis, facilmente carregáveis (e esquecíveis), singelamente
acessáveis por meio de marcadores de páginas (normalmente, também impressos em
papel), sublinháveis com caneta esferográfica ou ponta-porosa, alheios à
necessidade de baterias recarregáveis ou à existência de eletricidade (exceto à
noite, para que haja iluminação no quarto onde nos colocamos a lê-los), maleáveis,
cheirosos, belos, charmosos, elegantes, concretos e tácteis.
Não, senhores, a internet não
vai matar os livros e as publicações impressas em geral. Podem dormir
tranquilos. Existem hábitos que a civilização arraigou ao comportamento e à
cultura humanas e, entre esses, o ato da leitura na plataforma impressa é um
dos que dificilmente serão abandonados pelos representantes futuros de nossa
espécie. Ao menos, os do futuro próximo (falo em 2113, lembrem). As notícias de
nossas mortes ainda sairão publicadas em páginas impressas nos jornais, bem
como as alegrias dos anúncios sociais dos casamentos de nossos bisnetos,
creiam-me. Quem viver, verá. Ou melhor, lerá.
A favor de minha tese profética,
trago uma notícia publicada em fevereiro deste ano na imprensa (impressa)
mundial. Em 2012, a receita obtida com assinaturas e com a venda de exemplares
impressos da empresa The New York Times Company cresceu 10,4% em relação a
2011. Ou seja, o grupo norte-americano que edita os jornais The New York Times,
The Boston Globe e The International Herald Tribune está vendendo mais jornais
impressos e assinaturas do que antes. Mas não era para ser o contrário? Os
jornais impressos não deveriam estar tendo seu mercado retraído com o avanço e
consolidação dos blogs noticiosos mantidos por essas mesmas companhias?
E os livros? Publica-se como
nunca antes na história da humanidade. As feiras de livro, as bienais e os
encontros literários reúnem públicos cada vez maiores de leitores em todos os
cantos do mundo, e vendem-se mais e mais livros (impressos) nesses lugares. O
que a internet vem fazendo é exatamente agilizar, democratizar e ampliar o processo
de aquisição de livros (impressos), e não retraindo o setor.
Meu tablet vai estragar se eu o
deixar rolar ao chão ao pegar no sono em meio à leitura, deitado no sofá da
sala. Meu livro, meu jornal e minha revista, no máximo, sofrerão um amassadinho
e estarão me esperando alegremente para prosseguir na leitura quando eu acordar,
amanhã de manhã.
Não, senhores. As traças, os
ratos e os humanos de biblioteca prosseguirão sendo supridos com seu vital alimento
impresso durante muito tempo ainda. Amansai vossas almas e boas leituras.
Um comentário:
Concordo plenamente com sua profecia. :)
Mas confesso que ando meio deslumbrada com os livros digitais.
(Em tom alarmista agora:)Ah, sabe que aqui no Rio parece que vai desaparecer logo o tal do livro em papel. Quem sabe o senhor e sua senhora vêm conferir? ;)
Bjs
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