Eeeeeita paisinho (diminutivo desabonador da palavra “país” mesmo) esse nosso, hein, tchê?! Olha só a notícia que a imprensa veiculou esta semana: governo federal e empresas pertencentes a três setores (bancos, telefonia e grandes redes de varejo) firmaram um acordo público no qual as ditas empresas se comprometem a cumprir metas de diminuição do número de reclamações a que são submetidas por intermédio dos Procons existentes em todo o país.
Os três segmentos foram escolhidos por serem justamente aqueles que mais acumulam queixas e reclamações dos usuários e clientes. Quem, afinal de contas, não teve problemas absurdos decorrentes de mau atendimento, desleixo ou mesmo má-fé por parte de instituições financeiras, grandes lojas ou telefonia? Dia desses, ficamos sabendo que um senhor de idade morreu de ataque cardíaco por não conseguir (simplesmente NÃO CONSEGUIR) cancelar via 0800 uma linha de internet. Absurdos desse porte andam acontecendo em nossa pátria amada, salve, salve.
Então, o negócio ficou acertado assim: banco X, que em 2009 teve 63.489 processos movidos via Procons, compromete-se em reduzir esse pavoroso índice de mau-atendimento em 13,8% em 2010, baixando o número para “apenas” 54.689 casos. Ou seja, se você é cliente do tal banco, e como ainda estamos recém no primeiro semestre, cuidado: a meta deles ainda não foi atingida, pois admite-se que, em 2010, mais de 54 mil clientes ainda sejam lesados com mau-atendimento. Viu só como é a coisa? Lindo, né? Que prova de civilização, não é mesmo?
Uma primeira leitura superficial do fato pode, aparentemente, indicar a existência de uma BOA notícia. Mas não é bem assim. O acordo, no final das contas, chancela, ou abona, ou avaliza, a permanência de números exorbitantes de casos de mau-atendimento, como aceitáveis. Pois não são aceitáveis. Banco, loja, telefonia atendendo mal é inaceitável em qualquer caso. O índice aceitável de mau atendimento é zero. Somente zero. E nada mais além de zero. Sou cliente. Quero (exijo, tenho o direito de) ser bem atendido SEMPRE em TODOS os bancos, em TODAS as lojas, por TODAS as empresas de telefonia, e de esgoto, e de prestação de serviços, e restaurantes, e butecos sujos e encardidos, e no serviço público, e pelo vendedor de espetinho de gato na saída do estádio de futebol. SEMPRE. Quero e tenho o direito de ser SEMPRE muito bem atendido.
Não admito ser um dos 54 mil e tantos que serão mal atendidos pelo banco X em 2010. Ainda estou à espera da verdadeira boa notícia... Tipo: “Procons fecham as portas em todo o país por inexistência de queixas de mau-atendimento”. Aí sim, né.
(Crônica publicada no jornal Informante, de Farroupilha, em 23/04/2010)
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