Blog destinado à publicação de crônicas e textos assinados pelo jornalista e escritor Marcos Fernando Kirst em jornais e revistas, além de textos aleatórios quando for o caso.
domingo, 18 de julho de 2010
Passagem de graça ao País das Maravilhas
Se é verdade que a Arte imita a Vida, verdadeiro é também que a Arte retroalimenta indefinidamente a própria Arte. Cinema e literatura, por exemplo, são duas expressões artísticas que parecem ter sido criadas uma para a outra, tamanha a capacidade que uma tem de inspirar e insuflar novos ventos na outra. Vem sendo assim desde o nascimento da chamada Sétima Arte, que tem nas obras impressas uma de suas maiores fontes de inspiração para recriar nas telas a magia pela qual o cinema se caracteriza.
Transformar em roteiros cinematográficos os enredos, as situações e os personagens gerados nos livros por escritores no transcorrer dos séculos é meio caminho andado (dependendo da competência de produtores, diretores, roteiristas e atores) para alcançar sucesso nas salas de cinema. A recíproca se dá de forma direta: não poucas são as obras e mesmo os autores que têm suas famas redespertadas ou finalmente descobertas devido ao sucesso alcançado por suas transposições cinematográficas.
Recentemente, as atenções dos novos leitores foram direcionadas para a obra clássica do escocês Arthur Conan Doyle (1859 – 1930), criador do detetive londrino Sherlock Holmes, devido à renovação que o personagem ganhou nas telas de cinema com o filme estrelado por Robert Downey Jr no papel-título. Apesar do desempenho mais do que convincente do ator, a narrativa e o andamento do filme foram enfadonhos, situando-se aquém do eu se esperava em se tratando de um dos ícones da literatura universal. O que não impediu, no entanto, que o interesse pelas aventuras do cerebral detetive fosse reavivado e os títulos, durante alguns meses, voltaram às vitrines das livrarias em boa parte do mundo.
O mesmo acontece agora com as aventuras de Alice, a menina que frequenta o País das Maravilhas em sonhos, criada pelo escritor inglês Lewis Carroll (1832 – 1898) e revisitada agora nas telas pelas lentes do diretor Tim Burton. Mais do que apenas uma adaptação do livro, o enredo do filme parte do pressuposto de uma Alice um pouco mais velha, agora com 19 anos, distante 10 anos das aventuras que vivenciou junto ao Chapeleiro Maluco, à Rainha de Copas e ao Coelho Branco. O show de efeitos especiais e a presença de atores como Johnny Depp, Helena Bonham Carter e Anne Hathaway no elenco vêm garantindo o sucesso nas telas e também a revitalização das obras originais (“Alice no País das Maravilhas” e “Através do Espelho e o Que Alice Encontrou Lá”) nas prateleiras das livrarias.
Para quem pretende aproveitar a onda e mergulhar na leitura dos textos originais (e eu reforço a intenção, pois trata-se de ótima leitura), vão aqui algumas informações que julgo interessantes em relação à obra e ao autor. Em primeiro lugar, “Alice” é muito mais do que apenas uma pretensa obra para crianças. Até pode ser lida dessa maneira, uma vez que Carroll as escreveu (são dois livros, já citados acima) tendo como público-alvo primeiro sua amiga Alice Liddell, então com 10 anos de idade. Ao contrário do que o sensacionalismo gosta de pregar, Carroll não era pedófilo (jamais comprovou-se nada nesse sentido contra ele); apenas apreciava produzir fotos artísticas (técnica novíssima à época) de meninas, e encantava-se com o mágico mundo da lógica infantil.
Lewis Carroll é, na verdade, um anagrama (palavra formada por transposição de letras), um pseudônimo criado a partir do nome verdadeiro do autor: Charles Lutwidge Dodgson. Ele trocou a ordem das iniciais de seu nome verdadeiro (C.L. para L.C.), e criou um novo nome a partir daí: Lewis Carroll. Além disso (e obviamente não por coincidência), as novas iniciais, quando pronunciadas em inglês, produzem um som muito parecido com o nome de sua musa inspiradora da personagem: Alice. Experimente dizer L.C. em voz alta, em pronúncia inglesa...
Jogos mentais dessa natureza são o insumo fundamental para a criação da obra literária imortal de Carroll, que agora temos uma oportunidade sazonal interessante para conhecer e/ou redescobrir. Basta seguir as pegadas do Coelho Branco, porque, afinal de contas, para a boa leitura, jamais “é tarde, é tarde, é tarde, é muito tarde”...
(Publicado na seção Planeta Livro da revista Acontece Sul, edição de maio de 2010)
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3 comentários:
OI
parabéns pela iniciativa
abraço
Silvana
Gostaria de reforçar o convite e incitar a leitura da série Narnia, talvez merecedora de um post à parte?
Um grande abraço
Ric
Oi,Marcos
gostei muito da crônica. E quero compartilhar que também costumo me utilizar do Lewis Carrol para em minhas aulas de Estratégias Empresaria; às vezes para manter a posição já conquistada no mercado, é preciso muito investimento.
Uso a frase do Coelho, não sei se a utilizo sic,mas atribuo ao Coelho "é preciso correr um bocado para ficar no mesmo lugar".
Abraços Lurdes
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