Acreditem se quiserem, mas o fato é que estava escrito nas estrelas que uma pessoa nascida na década de 60 na cidade gaúcha de Ijuí viraria jogador profissional de futebol, vestiria a camiseta amarela da Seleção Brasileira, com a qual conquistaria um título mundial, e depois se tornaria técnico para disputar a Copa da África do Sul em 2010. Por pouco, mas por muito pouco mesmo, essa pessoa não fui eu. Quem não acredita, que siga lendo.
Minha promissora carreira dentro das quatro linhas de um gramado de futebol teve início quando eu ainda era um mancebo imberbe, míope e esquelético, com cerca de dez anos de idade, e meu nome era disputadíssimo pelos coleguinhas de aula na hora de escolher quem iria para o time de quem, nas aulas de educação física. Havia sempre dois meninos – os melhores no drible ou os donos da bola, normalmente o Gerson e o Rui – que iam escolhendo alternadamente, um a um, os garotos que pertenceriam a cada equipe, e o impasse se estabelecia sempre que chegava a vez do meu nome.
“O Marcos é de vocês”, apressava-se em dizer o Gerson. “Não, não, não. Negativo. Dessa vez o Marcos joga com vocês. Ele jogou conosco semana passada e perdemos de onze a zero, lembra?”, retrucava o Rui. “Ok, vocês jogam com doze, mas ficam com o Marcos”, propunha, esperto, o Gerson. “Nem pensar. Então fazemos assim: vocês saem com vantagem de quatro a zero, mas ficam com o Marcos”, devolvia o Rui. E a queda de braço continuava desses termos para baixo, até, normalmente, ser resolvida na pancadaria mesmo, que era como solucionávamos as coisas naquela época lá em Ijuí, em se tratando de assuntos vitais para a nossa formação cidadã como o futebol, por exemplo.
Eu, prudente, ficava quieto no meu canto e dava graças a Deus quando me dispensavam porque, na última hora, aparecia um guri de quem ninguém sabia o nome e me substituíam imediatamente, dando início à partida. Quando não tinha jeito, eu acabava ingressando em algum time, mas já me posicionavam direto na defesa, que era onde julgavam que eu produziria menores estragos. Obediente como era, eu não arredava o pé de dentro das demarcações da grande área de meu time, nem mesmo quando estávamos atacando. “Acompanha o time, anta. Estamos atacando”, gritava para mim o nosso goleiro. “Eu não. Eu sou defesa. Eu fico aqui”, respondia eu, andando em círculos, cuidando dos óculos.
Anos depois alguns colegas, já adultos, me confessaram que poderiam ter tido a idéia de me usar como arma secreta para, infiltrado nos times adversários, garantir o mau desempenho daquelas equipes e facilitar, apenas com minha presença em campo, as vitórias de minha turma em competições interséries, por exemplo. Mas era tarde demais. Meu destino com as letras já estava traçado. Sobrou para o Dunga cumprir a sina imposta pelo Destino. Fazer o quê...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 02/07/2010)
Nenhum comentário:
Postar um comentário