No interior do interior de
Criúva, a estrada de chão batido conduz a uma ferraria, dessas estacionadas na
esquina do tempo, onde as ferraduras para cavalo, os cravos e os marcadores de
gado ainda são forjados a duros golpes de martelo sobre o ferro em brasa.
Madeiras ancestrais deram forma às tábuas que escoram o galpão ao singrar das
gerações e o chão em terra acolhe a chuva de suor do ferreiro quando maneja o
pesado martelo, nos momentos em que incorpora, sem saber, o aspecto mais
característico de Thor, o deus do trovão, sobre a impassível e inabalável
bigorna, sua companheira fiel de labuta naquelas escondiduras.
O octogenário ferreiro,
aparentando saúde também de ferro, ciceroneia o passeio dos curiosos da cidade
chegados de surpresa. Mas é só na hora das despedidas que ele nos apresenta o
que ali há de mais curioso: a bigorna que prevê chuva, uma bigorna
meteorológica. O homem não jura, porque não precisa jurar, já que a verdade sai
em forma de palavras pela sua boca que fala. Ele apenas afirma. Mostra e afirma
que a bigorna, esta aqui, e não aquela lá, fica úmida a ponto de escorrer água
sempre que o tempo está para chuva. Quando a bigorna chora, o céu chove. Não
tem erro. Chora a bigorna, chove, no máximo, dois dias depois. Aquela bigorna
ali, e não a outra. A outra deve possuir habilidades mudas e secretas que ainda
não foram descobertas, mas esta aqui chora quando chove.
A bigorna estava seca e
impassível naquele dia de nossa visita. Não choveria, portanto, tão cedo,
presumi. E de fato, o tempo permaneceu firme a semana toda. Mas eu queria ver a
bigorna chorando e acompanhei a previsão da meteorologia atentamente, até o dia
em que, pelo rádio, soube que haveria chuva dali a dois dias. Toquei-me para a
ferraria em Criúva, a fim de ver a bigorna chorando. Cheguei lá, e nada.
Bigorna seca e quieta. Fui-me embora desconfiando de lorota e de conversa de
ferreiro-pescador, porém, ao contrário da previsão da meteorologia, não houve
chuva alguma, o tempo seguiu firme e seco semana adentro. Afinal, só chove
quando a bigorna chora. Peguei o telefone do ferreiro e, a partir de agora, não
faço mais caso da previsão do tempo. Quando quero saber de chuva, ligo para
Criúva.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 15 de março de 2013)
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