Muito além do amadorismo e ainda
mais além da incompetência, parece-me que o maior problema que está a reger
atualmente o setor dos prestadores de serviço reside na transferência de
responsabilidades ao próprio consumidor. Ou seja: além de termos de pagar e de
sermos muitas vezes mal atendidos, agora precisamos também arcar com os
conhecimentos, as habilidades e até as ferramentas que deveriam ser inerentes à
pessoa e/ou à empresa que está a prestar tal serviço (pelo qual você,
consumidor, paga, reitere-se). O cenário é preocupante, pois consolida a
tendência no mundo moderno de transferir as responsabilidades, passar adiante o
abacaxi, fazer cada vez menos em troca de cada vez mais, conquistar o máximo
viável por meio do menor esforço possível.
Para sustentar a tese, vamos aos
exemplos práticos recentemente vivenciados pelo cronista/consumidor, a título
de ilustração. Em Porto Alegre, peguei um táxi em um ponto, no bairro Menino
Deus, e pedi ao motorista que me deixasse no centro, defronte ao Theatro São Pedro.
Corrida rápida e simples, porém, após arrancar, o motorista afirmou não saber o
caminho e pediu que eu o fosse conduzindo. Ora, fosse assim, usava eu meu
próprio carro, ou, no melhor das hipóteses, dividiria com ele o custo da
corrida, afinal, cabe a ele conhecer os trajetos ou utilizar o GPS (“não sei
usar, senhor”). Lição: conhecer os detalhes dos trajetos ao pegar táxi em Porto
Alegre.
Outro dia, chamei o desentupidor
de ralos para vir à minha casa desentupir um ralo que entupido estava. Chegou,
analisou a situação e pediu se eu dispunha de “um ferrinho comprido ou uma
mangueira”, para ele executar o serviço. Aham. Lição: ao chamar prestadores de
serviço, certificar-se de possuir em casa as ferramentas que cabem a ele
utilizar para a execução da obra.
Ando com medo do que me espera
ao ir a um restaurante e pedir um risoto de camarão. Terei de eu mesmo limpar
os camarões na cozinha? Não deixarei de ir a restaurantes, mas, por segurança,
pedirei singelos ovos fritos. Creio que me garanto em uma rodada de ovos
fritos.
Mas a maior lição que fica é: a
gente consome e nunca vê tudo.
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